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A corrupção generalizada empobrece angola apesar de economia dar sinal de crescimento

Post by: 06 Agosto, 2017
Aumento do PIB é inferior ao da população e a corrupção generalizada, a burocracia ou a dependência ainda excessiva do petróleo são obstáculos ao desenvolvimento do país.

As previsões mais recentes apontam para um crescimento, fraco, da economia angolana nos próximos anos. Há vários fatores a limitar o crescimento do país, como  a falta de diversificação da economia, a dependência do petróleo, o clima económico difícil, a falta de competitividade em alguns setores e a corrupção generalizada.

A Capital Economics antevê um crescimento da economia de Angola este ano – 2% – e no próximo – 2,5 % – depois de uma recessão de 4% em 2016.

Já a Economist Intelligence Unit (EIU) resume que o crescimento da economia, dados os parcos resultados do processo de diversificação, vai mais uma vez depender da evolução dos preços do petróleo, com a previsão de crescimento do PIB a ser de 2,5% para o período entre 2017 e 2021. 

O problema é que, alerta Alves da Rocha ao SOL, esta taxa média anual de variação «correspondendo a um empobrecimento geral da população, já que a taxa de crescimento demográfico é de 3,1%». De acordo com o professor da Universidade Católica de Angola (UCAN), o «tempo do crescimento rápido e fácil acabou, tendo terminado em 2008, seis anos de mini-idade de ouro do crescimento angolano». Para o economista, «sem reformas estruturais de mercado, sem o combate à corrupção e à burocracia e sem a criação de um ambiente de negócios saudável, transparente que atraia investimento privado, nomeadamente estrangeiro, a dinâmica de crescimento» continuará a ser fraca.

Em relação ao clima económico e de acordo com o Fórum Económico Mundial (FEM), houve uma deterioração em 2016. O indicador de clima económico (ECI) de Angola foi, em média, de nove entre 2008 e 2016. O ECI indica o otimismo dos empresários e acima de dez pontos revela uma perspetiva de melhoria e abaixo deste valor uma visão de deterioração. 

De acordo com a mais recente avaliação do Banco Mundial, Angola desceu para a 182.ª aposição entre 190 países no que respeita à facilidade em fazer negócios (‘doing business’).  No que diz respeito à corrupção, o mais recente índice de percepção da corrupção da ONG Transparência Internacional, que procura refletir a percepção da corrupção no setor público numa escala de 0 (corrupção elevada) e 100 (nada corrupto), Angola obtém 18 pontos. 

«O país tem recursos naturais que podem ser transformados em rendimentos para a população e em melhoria das suas condições de vida. Mas com o nível de corrupção existente – vertical (do topo à base) e horizontal (em todos os setores de atividade, incluindo privados (...)  vai ser muito difícil recuperar os ritmos de crescimento do período de 2002 a 2008», resume Alves da Rocha.

Para além destes fatores, há pouco investimento em Angola. «Algum investimento está a acontecer, apesar do período eleitoral, porque nada de novo vai acontecer depois das eleições: o MPLA, duma forma mais ou menos transparente vai vencê-las, pelo que não há nenhuma incerteza quanto ao rumo da política e da política económica na  próxima legislatura», diz o professor da UCAN.

A opinião é partilhada ao SOL por Cobus de Hart, analista da sul-africana NKC Africa Economics, que considera que as eleições «não terão impacto nas decisões de investimento, uma vez que tudo aponta para que o MPLA continue no poder». 

O último inquérito da consultora internacional de fiscalidade e auditoria da EY revela que  75% dos inquiridos planeiam investir em Angola nos próximos três anos, com a maioria a apontar o setor petrolífero e financeiro como principal alvo, mas também outros setores. 

Daí que segundo os autores do estudo, citados na edição de juilho da revista angolana Exame, esta dispersão parece «indicar uma avaliação de existência de oportunidades num grande número de setores, o que poderá ser um indicador interessante quanto ao papel que o investimento privado de origem angolana poderá ter a vir no processo de diversificação».  

Já Cobus de Hart lembra que «as autoridades estão a tentar diversificar a diversificar a economia do setor do petróleo para setores como a mineração, a agricultura e o a indústria, mas este tem sido um processo lento e que é mais difícil devido à falta de investimento direto estrangeiro». 

Desde 2011 que o Centro de Estudos e Investigação Científica da UCAN tem apresentado trabalho sobre a a diversificação da economia angolana. Mas o Relatório Económico da instituição retirou em 2016 o capítulo referente a «este assunto, da máxima importância para o país. E se resolvemos retirar esse capítulo foi porque nada tem acontecido», revelou Alves da Rocha. «Angola recolheu de receitas de exportação de petróleo entre 2002 e 2016 cerca de 580 mil milhões de dólares norte-americanos, mas neste momento a economia não tem dinheiro e o Estado vive do aumento sistemático da sua dívida pública».

Para além da dívida pública e da economia quase estagnada, a inflação alta e os problemas monetários – indisponibilidade de divisas e a incerteza cambial são  apontadas como obstáculos. 

De acordo com a EIU expetativa é que a inflação continue elevada, à volta de 30%, e que a ausência de dólares no sistema bancário fará com que o valor oficial continue desfasado do valor do mercado negro. A EIU chama a atenção para a condução da política monetária pelo poder político, o que torna razoável assumir que o banco central estará sob pressão para ser mais tolerante em caso de falta de crescimento da economia. 

Em resumo, Alves da Rocha lembra que «dentro do MPLA a sua elite beneficia da corrupção e da falta de transparência da governação» e que «como muito disse Justino Pinto de Andrade numa entrevista, ‘os principais agentes da corrupção em Angola estão dentro do MPLA’». 

Jornal I

Last modified on Domingo, 06 Agosto 2017 21:41
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