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«As mulheres devem focar-se mais no seu prazer»

Post by: 21 Junho, 2017
«As mulheres devem focar-se mais no seu prazer»

Apenas um terço das mulheres consegue chegar ao orgasmo quando tem relações sexuais. Maria do Céu Santo, médica ginecologista obstetra, especialista em medicina sexual, explica porquê.

Mais de dois terços das mulheres nem sempre atingem o orgasmo quando têm relações sexuais, revela um inquérito da Durex recentemente divulgado. Curiosamente, ainda assim, 95 por cento das inquiridas afirmam estar satisfeitas com o número de vezes que atingem o clímax. O porquê é complexo, como explica Maria do Céu Santo, médica ginecologista obstetra, especialista em medicina sexual.

«O orgasmo é o objetivo máximo da relação sexual. Depende de vários fatores, como a disponibilidade física e psíquica, além da excitação. Sabemos que com a automasturbação se consegue chegar ao orgasmo, o que significa que para o atingir, a técnica é muito importante», afirma a especialista em entrevista. Veja também a galeria de imagens 26 filmes eróticos para ver (preferencialmente) a dois.

Um inquérito recente revela que mais de dois terços das mulheres não atingem o orgasmo quando têm relações sexuais, mas estão  satisfeitas com a sua vida sexual.  Estes dados surpreendem-na?

Não me surpreendem. Vão muitas mulheres às minhas consultas por dificuldade em atingir o orgasmo, mas algumas referem que, mesmo quando não acontece, têm prazer. Muitas vezes, algumas delas sabem que não o atingem por falta de disponibilidade física e mental, mas a principal queixa e preocupação continua a ser a diminuição da libido (desejo).      

Qual é a importância de atingir o orgasmo?

É o sonho de qualquer homem ou mulher no ato sexual. Por isso, muitas mulheres fingem o orgasmo para o parceiro ficar feliz ou para o ato sexual ser mais rápido, porque se sentem cansadas. Tenho também recebido homens em consulta que querem perceber se a culpa da mulher não sentir desejo é, de alguma forma, sua e o que podem fazer para ajudar. Existe uma preocupação mútua, de solidariedade, em satisfazer o outro e, por isso, paradoxalmente, o facto de a mulher colocar a hipótese de fingir o orgasmo pode trair essa lealdade.

Essa é a principal razão que leva a mulher a fingir o orgasmo?  

As causas divergem. Mas deve-se, essencialmente, a quatro razões: primeiro, por insegurança em relação ao parceiro, por recear que este pense que o facto de estar a demorar muito tempo a atingir o orgasmo seja por ela não gostar dele ou que algo não está a correr bem.

Segundo, devido ao cansaço, a mulher quer que a relação termine rápido por estar atrasada para ir dormir. E, terceiro, por dificuldade em conseguir chegar ao orgasmo; e quarto, por saber que vai sentir dor ou desconforto durante a penetração (dispareunia).

Quais os benefícios do orgasmo para a saúde?

O orgasmo melhora o humor, reduz o stresse e isso traduz-se num melhor bem-estar físico e psicológico, e até, em alguns casos, na melhoria da qualidade do sono pois beneficia o relaxamento muscular. Além disso, também queima calorias.

 É, de facto, mais fácil ao homem sentir desejo e atingir o clímax?

A ideia de que o homem está sempre disponível para a atividade sexual, atualmente, já não faz sentido, ainda que os níveis de testosterona (a hormona do desejo) sejam, de facto, mais elevados nos homens do que nas mulheres, o que implica que eles tenham, regra geral, mais desejo sexual.

No universo feminino, existe a questão do foco, da concentração no prazer, para mais tendo em conta que, em média, a mulher precisa de mais tempo para se excitar. Os períodos de orgasmo variam. Oscilam entre os seis a oito segundos para os homens e entre 10 e 20 segundos para as mulheres.

Há diferenças entre o orgasmo atingido durante a masturbação e o resultante da relação sexual?

O primeiro é mais intenso e rápido, o segundo tende a ser mais completo e compensatório, pois tem outro tipo de envolvimento emocional e cognitivo.

Quais as principais razões para a mulher ter dificuldades em atingir o orgasmo?

A principal razão é a disfunção de vida, não a disfunção sexual. Ao não ter tempo para descansar, anda arrastada pela vida, logo falta-lhe energia física e psíquica para a atividade sexual. Contudo, existem ainda outras questões que condicionam o orgasmo, como é o caso de doenças físicas e psíquicas. A toma de medicamentos é outra das possíveis causas.

A partir de que ponto é que deixa de ser normal o facto de a mulher não conseguir atingir o orgasmo?

Em termos clínicos, considera-se que existe uma disfunção quando a situação se mantém além de seis meses e se provocar ansiedade à mulher ou ao casal. Essa incapacidade pode dever-se a problemas a nível físico ou psicológico, aconselhando-se uma consulta de ginecologia. A primeira observação terá foco na questão orgânica e, caso não se identifique qualquer problema, analisam-se outras possibilidades. Por vezes, identificam-se inibições de ordem cultural, sendo o apoio psicológico fundamental.

Durante a relação sexual, o que tende a armadilhar a capacidade da mulher para atingir o orgasmo?

Essencialmente, o desapego face ao próprio ato.  É fundamental que exista um foco e entrega total ao prazer. E não ter medo de perder o controlo.

Qual deve ser o papel do homem?

Os homens devem entender que é essencial elogiar a parceira. Isso melhora a autoestima e favorece a intimidade e a relação. Assim como os carinhos e o afeto não se devem restringir aos preliminares. Um beijinho ou um abraço na rua aproxima o casal, fortalece o desejo e não leva a mulher a pensar que essas demonstrações de ternura tenham como objetivo único o sexo. A construção dessa intimidade e empenho são, muitas vezes, importante, dando depois frutos quando se faz amor.

O que aconselha que uma mulher com dificuldade em atingir o orgasmo faça durante a relação sexual?

Prefiro encarar uma possível solução a dois. Recomendo que a mulher oriente o parceiro, demonstrando aquilo que lhe dá mais prazer. Como quando se tem comichão e se pede a alguém que nos coce, dizendo para o fazer mais para a direita ou mais para a esquerda. Aconselha-se que a mulher se estimule a si própria durante a penetração e isso não deve ser entendido como uma incompetência da técnica masculina, mas, sim, uma prova do conhecimento dos seus ritmos e zonas erógenas.

A imaginação é também outro fator desbloqueante e, nesse campo, os brinquedos sexuais podem ser uma mais-valia. O casal deve pesquisar e perceber os que mais se adequam aos seus gostos. Por norma, opto por prescrever a utilização de bolinhas de Kegel, que têm uma dupla função. Tonificam os músculos vaginais e o pavimento pélvico e aumentam a libido. E existem também alguns preservativos em que o lubrificante tem uma ação vasodilatadora, o que facilita a excitação.

Texto: Carlos Eugénio Augusto com Maria do Céu Santo (médica ginecologista obstetra especialista em medicina sexual)

 SAPO

Last modified on Quarta, 21 Junho 2017 17:40
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