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Satisfazem – se na arte médica os interesses profissionais e pessoais?

Post by: 06 Agosto, 2017

Mesmo que na mais perspicaz ironia, a visão pública rebate na pessoa do médico classificando – a como sendo a medicina a melhor das profissões, justificada no âmbito do seu exercício, porém, não é o mesmo de que os que dizem.

João Henrique Rodilson Hungulo

A maioria dos médicos diz, que a medicina é uma profissão ingrata, em que trabalha – se muito, e quase nada se ganha em compensação do sacrifício que se faz.

A medicina, por si, passa a ser da mais sacrificada entre os ofícios, o trabalho de que um médico faz supera de qualquer outro profissional, os médicos, adiam a morte, ou por outra, colocam – na, longe do alcance da pessoa enferma, porém, pela ironia do destino, os seus magros salários, não cobrem o sacrifício porque passam. Os médicos, são os únicos profissionais no mundo todo que fazem a missão de Cristo e de Deus o altíssimo, o de salvaguardar o bem mais precioso da vida: “a saúde”.

A sociedade moderna, pode ter tudo, porém, enquanto esta não tiver saúde, ainda não tem nada, é nesta irónica afirmação que Dalai Lama dizia:

O que mais lhe surpreendia na humanidade, “Os homens, porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer, e morrem como se nunca tivessem vivido”.

Isto, nos leva a afirmar o quanto o ofício médico é importante na vida de qualquer um seja quem seja, rico ou pobre, grande ou pequeno, mau ou bom, alto ou baixo, não passará dos limites da idade cronológica e biológica se antes não cuidar da sua saúde com precisão, se antes não servir de forma escrupuloso os princípios que norteiam a saúde preventiva e o combate as enfermidades comuns que causam de forma gradativa lesões tissulares que presumem a perda do equilíbrio físico do corpo e a instalação de doenças, neste prisma, a saúde é directamente proporcional a longevidade do homem no mundo.

Ser médico é viver a medicina além de uma profissão. Em outras palavras, a dimensão da técnica não existe se desacompanhada da busca do humano em todas as esferas da vida: plantando uma árvore e criando os filhos, buscando a alegria e a realização pessoal no casamento e na preservação das amizades. A prática da medicina é, sobretudo, actividade de humanização de si mesmo e dos outros e, por isso mesmo, só pode ser exercida em sociedade.

Mas, medicina, não é uma profissão que permite este paradigma realizado, porque enquanto queremos salvaguardar o bem da vida alheia, desviam – se os interesses pessoas, a medicina não se compadece com certas questões vinculadas ao alcance de proezas pessoais, a realização pessoal na medicina, deve estar ao alcance dos interesses profissionais, sejam quais forem as circunstâncias vividas, não se deve viver na arrogância, na avareza, na falta de compaixão pelo próximo, na pressa, na indolência, porque estes pressupostos, aniquilam a imagem do médico, a dignidade, e destroem o perfil de natureza profissional, transformando o médico num mercador em venda de saúde ao próximo.

 A medicina não é arte qualquer, é, um ofício na dimensão científica que somente se realiza na profundeza da ética e do amor ao próximo. Ser médico, não é fácil, há que renunciar a sua própria vontade em virtude de satisfazer os interesses alheios, despindo – se da vontades voltada para os interesses de ordem monetária ou material apenas, ser médico, é o verdadeiro sacerdócio, salvar sem olhar primeiro no que o doente é ou tem, olhar acima de tudo no que se pode fazer para restaurar a saúde do doente, ouvir o doente acima de tudo.

A medicina, pressupõe respeito ao doente, sigilo e a privacidade, como deveres de ofício da beneficência e da não maleficência. Mas, aqui está a questão, é esta uma arte para salvar a vida dos doentes ou para benefício pessoal do médico?

Se salvaguardando apenas a vida alheia, esquecendo – se de si mesmo, correm nas suas veias tensões ligadas à vida que se leva enquanto pessoa, que dizem respeito à satisfação do desejos da vida pessoal e familiar, de então, a natureza médica, é de facto, a mais complexa por se viver, um dilema ético complexo.

Quando muitos entram na Universidade com a pressa pendurada na alma, cuja vontade expressa o norte de ser médico, pressupondo a riqueza como o alcance primeiro dos interesses porque defendem enquanto médicos, estarão estes redondamente enganados, na medicina, o caminho para a riqueza torna – se espinhoso, fazendo o médico numa verdadeira máquina de conquistas de bens em vez de ser um salvador de enfermos.

Outros, no prazer de apenas fazer, esquecem – se dos princípios científicos e teóricos que definem a medicina como arte científica, neste prima, há que aliar a prática à teoria, pois que, a medicina é verdadeiramente espinhosa, é necessário ler e ler, não interessa o nível profissional que o indivíduo alcance, a leitura somente termina depois de se deixar de exercitar a medicina como profissão e arte.  

A dimensão de ser médico, é complexa, e quase impossível que se seja bom, caso o indivíduo deposite o seu desejo no egocentrismo fundamentado no egoísmo, negando salvar os outros sem ser recompensado, negando assim o chamado de hipócrates cujo juramento impõe o contrário.

Praticar a medicina nestas circunstâncias exige um esforço extraordinário, pois a dignidade e o respeito ao próximo, em compasso harmónico para com as próprias necessidades pessoais e familiares, colocam-se como valores morais quase “desviantes” em relação a determinados projectos pessoais.

Para tal, é necessário aliar os interesses da profissão aos interesses pessoais, porque ninguém será feliz se não tiver felicidade conjugal e familiar, ninguém será feliz se a sua vida for um obstáculo enquanto pessoa particular, porém, os interesses profissionais presumem que na conquista do respeito e da dignidade junto do mundo enfermo, há que negar os interesses pessoas.

Nesta sorte, fica uma penumbra confusa focada nos objectivos pessoais que divergem dos interesses profissionais, os de construir a vida profissional  longe das visões pessoais, que nada mais são senão mesmo a construção da vida material e familiar, engajada no abono salarial enquanto profissional, o que faz – se em mera impossibilidade, em virtude da rentabilidade pouco justificar o sacrifício do médico, o que torna nos médicos, homens sem tempo para família e para si mesmos, levando o médicos a terem péssima qualidade de vida, em virtude de palmilharem cargas laborais pesadas e extenuantes, colocando de longe os princípios que norteiam a profissão e vestir – se apenas dos interesses pessoais pelo qual o mundo moderno enaltece, surge no entanto a seguinte conclusão: não se consegue nem satisfazer os interesses profissionais, nem satisfazer os interesses pessoais.

João Henrique: Médico Generalista, Pesquisador De Ciências Médicas, Professor Universitário, Escritor, Poeta. ,
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