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Bispos angolanos confirmam um caso de abuso de menores dentro da Igreja Católica

Post by: 20 Março, 2019

Os bispos católicos angolanos admitiram hoje que em Angola "não existem dados de abusos de menores na Igreja", indicando que no único caso registado no país, sem especificar quando, o autor foi "entregue à Justiça e julgado".

"Essa pessoa está a assumir as suas responsabilidades. Mas, o facto de não termos dados, não quer dizer que não aconteçam. Daí que estamos a tomar as disposições para procurarmos acautelar e prevenir", disse hoje o presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), Filomeno Vieira Dias.

"Temos a disponibilidade de escutar, procurar perceber e acolher aqueles casos que nos chegarem ou as denúncias que nos chegarem, porque a igreja não se esconde. É algo que deve ser estripado", sublinhou o também arcebispo de Luanda.

Falando hoje em conferência de imprensa, em Luanda, no final da primeira assembleia plenária ordinária dos bispos da CEAST, o sacerdote católico considerou o abuso de menores na igreja uma "monstruosidade abominável e condenável".

"Choca, ofende e descredibiliza aquilo que a Igreja tem como valores fundamentais, que é a tutela da pessoa humana, a defesa da dignidade de cada pessoa e uma relação saudável entre as pessoas, sobretudo a nível da igreja", argumentou.

A problemática do abuso de menores na Igreja Católica foi discutida, em fevereiro, no Vaticano, durante um encontro convocado pelo papa Francisco e que congregou todos os presidentes das conferências episcopais do mundo, onde as vítimas apresentaram os seus depoimentos.

Segundo o presidente da CEAST, que também participou do conclave, o abuso de menores na igreja é algo que "contradiz de modo chocante com aquilo que é a natureza, a missão e a vocação da igreja".

"É um escândalo, a Igreja não se esconde. Reconhece que se encontra diante de um escândalo, algo que desdiz aquilo que ela deve ser. Reconhecemos que estes são pecados, são desordens disciplinares, porque o padre ou a religiosa comprometem-se a um estilo de vida próprio da castidade. Ao mesmo tempo, constitui um crime civil", declarou.

O arcebispo de Luanda salientou que, para a igreja, "os abusadores devem responder e devem ser responsabilizados pelos seus atos", mas observou que tal não pode acontecer de forma "aleatória", mas sim mediante "processos judiciais que comprovem estes abusos".

Aludindo a relatórios das Nações Unidas e de outras organizações, Filomeno Vieira Dias assinalou que, apesar de considerar o tema como uma "monstruosidade", referiu que "mais de 80%" dos casos de abuso de menores acontecem fora da Igreja.

"Mas, como disse o papa Francisco, na Igreja, mesmo que acontecesse só um caso, isso seria já gravíssimo, porque ninguém espera isso de um homem de Deus", concluiu.

Questionado sobre a condenação do cardeal australiano George Pell, 77 anos, a seis anos de prisão por abuso sexual de dois rapazes do coro numa catedral, em Melbourne, na Austrália, há mais de 20 anos, o arcebispo considerou que o caso representa a "abertura e reconhecimento" da igreja católica sobre a existência desses crimes.

"O nosso princípio geral é de que se trata de algo abominável, condenável, reprovável, algo que, comprovando-se e nos casos comprovados, os responsáveis devem responder", referiu, acrescentando eu se trata de "crimes que não podem prescrever, que ferem a consciência, a memória e fé, além de ferir pessoas e famílias".

Durante a conferência de imprensa, os bispos católicos angolanos apresentaram o relatório dos trabalhos que decorreram de 13 a 20 de março, uma nota pastoral sobre a despenalização do aborto e um olhar sobre a situação socioeconómica de Angola.

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