“Se quer ajudar Angola e os angolanos, pegue nesses 500 milhões de euros e aplique na nossa comunidade em Portugal”, disse Francisco Viana durante um encontro com a diáspora angolana em Lisboa, promovido pela Frente Patriótica Unida (FPU), plataforma que congrega o Bloco Democrático e o projeto político PRA-JA Servir Angola.
Durante a sua intervenção, o empresário e também líder do movimento Nova Angola criticou fortemente a visita oficial de Montenegro, denunciando um alegado conluio com o Presidente João Lourenço.
“O primeiro-ministro português chegou a Angola todo ‘pipi’, a dizer que tinha uma surpresa”, afirmou.
A surpresa era, segundo afirmou o deputado, um reforço de 500 milhões de euros da atual linha de crédito de Portugal a Angola, que Montenegro anunciou nesta visita oficial de três dias, que terminou quinta-feira.
João Lourenço terá respondido, segundo Francisco Viana, que já sabia onde iria gastar esse montante. “Dois grandes marimbondos [vespas]”, disse.
O deputado da Assembleia Nacional angolana deixou ainda um “pequeno alerta” a Montenegro: “Se for para Angola dar força a quem faz ajustes diretos e não presta contas (…), corre o risco de não ser bem-vindo. Cuidado, senhor primeiro-ministro”.
“Não precisamos de abutres em Angola”, disse, levantando a hipótese de uma futura responsabilização dos “dirigentes portugueses, para não serem cúmplices com o que está a acontecer em Angola”, ideia que mereceu um aplauso de muitos dos participantes deste encontro, mais de 200, que encheram a sala de um hotel em Lisboa.
A visita voltou a ser abordada no discurso do presidente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Adalberto Costa Júnior, que foi recebido no evento com palmas e palavras de ordem: “Adalberto presidente”, “presidente Adalberto”.
O líder do moimento do “galo negro” não gostou de ver “lado a lado um primeiro-ministro de um país [Portugal] a ouvir esse Presidente [angolano]” e a “ficar em silêncio” quando João Lourenço alegadamente afirmou que já sabia onde distribuir esse valor que Portugal anunciou para reforçar o crédito a Angola.
Adalberto Costa Júnior lamentou ainda a fuga de quadros de Angola, afirmando que a saída do país não para de aumentar e que são às centenas os que pedem visto para emigrar.
E acusou João Lourenço de facilitar esta saída, nomeadamente quando se trata de quem “dá trabalho” ao Presidente, ou seja, todos os que “dizem o que pensam”.
A sala preenchida por muitos angolanos com vontade de falar ouviu ainda a intervenção do coordenador do PRA-JA servir Angola, Abel Chivukuvuku, para quem não é só o povo angolano que anda desesperado, mas também o regime.
“Politicamente, o país não tem rumo. Economicamente, está perto da bancarrota”, disse.
E apelou à diáspora angolana para estar atenta, acompanhar a situação e participar na mudança.
Impossibilitado de estar presente, o presidente do Bloco Democrático, Filomeno Vieira Lopes, enviou uma mensagem que foi lida por Jorge Silva, na qual reafirmou a importância da realização de eleições autárquicas, as quais proporcionam “uma maior descentralização” e uma “mais justa distribuição de meios”.
Filomeno Vieira Lopes deixou ainda uma palavra aos angolanos que vivem fora de Angola, como em Portugal, onde se deparam com várias dificuldades, nomeadamente “na habitação, para manter e arranjar emprego, discriminação e dificuldades consulares”.
Este encontro em Lisboa foi o primeiro com a comunidade angolana em Portugal desde a criação da FPU, em 2022.