Telma Patrícia, que foi vítima de abuso sexual na adolescência, defendeu ser necessário que se fale sobre abuso e violência sexual de crianças e adolescentes, observando que os atuais dados sobre o assunto em Angola “são assustadores”.
“Assusta-me também a ausência de debates na sociedade e o engajamento para proteger e prevenir situações de violação de direitos de crianças e adolescentes”, salientou a ativista, em Luanda.
“Precisamos de urgentemente quebrar esse tabu, ter medo de falar sobre isso, porque enquanto esse medo existir, as crianças e os adolescentes vão continuar a ser abusados e estuprados, como mostram as estatísticas”, advogou.
A ativista de 22 anos, que diz ter sido vítima de abuso sexual dos 04 aos 08 anos, falava durante a cerimónia de apresentação do balanço da Campanha Nacional de Prevenção e Combate à Violência Sexual contra a Criança em Angola.
A campanha registou 4.706 casos de abuso sexual contra a criança entre 16 de março de 2021 e 16 de março de 2022.
Segundo a ativista, as autoridades angolanas “precisam de garantir a toda criança e adolescente o direito ao desenvolvimento de sua sexualidade de forma segura e protegida, livres do abuso e da exploração sexual”.
“Infelizmente, o abuso e exploração sexual infantil é uma violência quase omnipresente na vida das crianças e a falta de educação sexual em casa e nas escolas contribui para essa violência virulenta”, notou.
A também estudante de Direito e funcionária pública narrou aos presentes a fase em que foi vítima de abuso sexual, cujo agressor partilhava o mesmo teto: “Assim como milhares de crianças no mundo, também faço parte das estatísticas de crianças abusadas sexualmente”.
“Cresci e desenvolvi doenças mentais como ansiedade e depressão. Não tive acompanhamento de absolutamente ninguém, sempre fui muito carismática e dedicada em tudo que fazia e faço, mas eu tinha que lidar com essa dor sozinha”, recordou.
Telma Patrícia, que diz ter contado aos pais de que era vítima de abuso sexual apenas aos 16 anos, realçou que teve apoio dos familiares, mas agora apoia mulheres de vários estratos sociais, “sobretudo aquelas sem oportunidade”.
“Decidi focar-me nessas mulheres, porque elas não têm voz, não têm oportunidades e é exatamente isso que me distancia delas, oportunidade”, rematou.
A cerimónia de balanço da campanha decorreu hoje, em Luanda, e foi presidida pela ministra da Ação Social, Família e Promoção da Mulher, Faustina Alves.