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Morre Robert Mugabe, ex-ditador do Zimbábue, aos 95

Post by: 06 Setembro, 2019
Morre Robert Mugabe, ex-ditador do Zimbábue, aos 95

Vitorioso na Guerra da Rodésia, Mugabe governou o país desde então até ser destituído por um golpe em 2017. Ele morreu em Singapura, onde recebia tratamento médico há alguns meses, mas a causa da morte não foi divulgada.

O atual presidente do pais, Emmerson Mnangagwa, confirmou a noticia no Twitter: "É com grande tristeza que anuncio a morte do pai fundador e antigo presidente do Zimbabwe, Cdt Robert Mugabe."

A saúde do ex-presidente se deteriorou nos últimos anos, o que levou à sua morte, informou a família à BBC.

Mugabe foi deposto por um golpe militar em novembro de 2017, o que pôs fim à sua liderança de 37 anos.

À medida que a economia do Zimbábue ia de mal a pior e, finalmente, se tornou desastros, a morte política e, até mesmo física, de Robert Mugabe foi prevista muitas vezes. Mas ele sempre confundiu seus críticos.

Nascido a 21 de fevereiro de 1924, no que era então a antiga colónia britânica da Rodésia, governada por um regime ditatorial da minoria branca, Robert Gabriel Mugabe foi um estudante exemplar.

Ganhou uma bolsa de estudo para a Universidade de Fort Hare, na África do Sul, onde concluiu a primeira das suas sete licenciaturas. Viveu os seus primeiros anos de professor no Gana, onde conheceu as teorias pan-africanas de Kwame Nkrumah, o líder do movimento independentista local.

Só regressou à Rodésia quando já tinha 36 anos, e estava casado com a primeira mulher, a ganesa Sally. Pouco depois de chegar funda a União Nacional Africana do Zimbabué, o partido ZANU, que liderou durante mais de 40 anos.

Em 1964, num comício, chamou "cowboys" aos membros do governo liderado por Ian Smith na Rodésia. Foi preso, sem qualquer processo judicial, durante 10 anos. O regime de Smith impediu-o de assistir ao funeral do seu primeiro filho, que morreu quando estava detido. É também no seu último ano de prisão, em 1973, que é eleito presidente da ZANU.

Quando sai da cadeia, aproveitando a independência de Moçambique no pós-25 de Abril de 1974, refugia-se em Moçambique, onde organiza uma guerrilha contra a ditadura de Ian Smith.

Em 1980 vence, de forma surpreendene, as primeiras eleições na nova República do Zimbabué. É nessa altura que mostra a sua grande habilidade negocial. Com a população branca da antiga Rodésia em alerta, e preparada para fugir do país, Mugabe, que se descrevia como um marxista, anuncia uma estratégia de "reconciliação". Anuncia que não vai nacionalizar as propriedades agrícolas, nem levar a cabo qualquer retaliação.

O primeiro grande conflito político de Mugabe dá-se com os seus aliados na luta pelo fim do regime racista de Ian Smith: a ZAPU de Joshua Nkomo. Depois de conseguir absorver o partido rival, a ZANU de Mugabe (que passa a ter mais duas letras no acrónimo, PF) torna-se na força dominante. Mugabe é reeleito presidente da república em 1987 e 1996.

É já em meados dos anos 90, depois da morte da sua primeira mulher, Sally, que casa com Grace Marufu, 40 anos mais nova, com quem já tinha dois filhos. O último dos filhos de Mugabe nasceu em 1997, quando o presidente tinha 73 anos.

É nos anos 90 que se agudiza a situação política e social no Zimbabué. Mugabe aprovou uma Lei de Aquisição de Terra, que permitia o confisco de propriedades aos mais de 4500 fazendeiros brancos, que dominavam a produção agrícola do país.

É de novo na forma como lidou com a ameaça de um partido rival, o MDC, de Morgan Tsvangirai, que Mugabe radicalizará o problema político e a situação se tornará insustentável.

O MDC passa a ser considerado o partido-sombra dos agricultores brancos, e a ocupação de terras torna-se violenta. A produção agrícola cai. E a população passa a sentir os efeitos da carência de alimentos.

Nas eleições de 2000 o MDC ganha o voto popular, mas a ZANU mantém-se no poder graças a um sistema de inerências que lhe garante a maioria no parlamento. Mugabe ganha, por pouco, as presidencias a Morgan Tsvangirai, com acusações de fraude eleitoral. A União Europeia e os Estados Unidos não reconheceram os resultados.

E Mugabe continuou a dividir o Zimbabué. Em 2005 lançou uma operação policial contra os vendedores ambulantes. Demoliu bairros inteiros, deixando cerca de 700 mil pessoas sem casa.

Em 2008, Tsvangirai venceu a primeira volta das presidenciais, batendo Mugabe. Mas não aceitou participar na segunda volta, denunciando a fraude eleitoral. Mugabe permaneceu no poder. Mas foi obrigado, em 2009, a estabelecer um acordo com a oposição - quando país se debatia com uma crise de cólera e uma inflacção gigantesca.

Em 2013, com 89 anos, Mugabe venceu a sua última eleição presidencial. A sua promessa de se manter no poder vitaliciamente originou um golpe interno dentro do seu partido.

Em 15 de novembro de 2017, o exército colocou-o em prisão domiciliária. Mugabe demorou seis dias a aceitar a situação e a renunciar ao cargo, a favor do seu número dois, Emmerson Mnangagwa.

Foi a sua última grande negociação: conseguiu manter-se com estatuto ofiial, imune a qualquer processo judicial ou político, e salvaguardar os seus bens e regalias.

Mas o fim estava muito próximo, para este professor, que liderou a transição democrática no Zimbabué e se tornou num ditador - que almejava o poder ilimitado.

Robert Mugabe morreu aos 95 anos, a 6 de setembo de 2019, depois de ter estado internado, desde abril, num hospital, em Singapura.

Last modified on Sexta, 06 Setembro 2019 15:41
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