O secretário da Defesa norte-americano, Lloyd Austin, discursou esta quarta-feira (27.09) no Arquivo Histórico de Luanda perante uma audiência que incluía ministros, representantes do corpo diplomático e outras individualidades, no final da sua primeira viagem a África e depois de passar por Djibuti e pelo Quénia.
Austin assinalou que os países africanos precisam de instituições reativas, transparentes e lideradas por civis, que respeitem os direitos humanos e defendam o Estado de Direito: "África precisa de líderes civis que se mantenham fiéis aos seus cidadãos, dando ouvidos às suas vozes", frisou o alto responsável norte-americano.
Por isso, continuou, os Estados Unidos estão empenhados em apoiar políticas que "promovam a paz, a segurança e a governação democrática", num momento de "profundo desafio" para a democracia em África.
"Em todo o continente, temos visto autocratas a comprometer eleições livres e justas e a impedir transições pacíficas de poder", afirmou, salientando que, "quando os generais anulam a vontade do povo e colocam as suas próprias ambições acima do Estado de Direito, a segurança sofre e a democracia morre".
Mais investimento em Defesa
Lloyd Austin sublinhou que África precisa de forças armadas que sirvam os seus cidadãos, e não o contrário, e que os EUA vão continuar a investir em forças armadas profissionais e lideradas por civis.
Na visita a Angola, a primeira de um secretário de Defesa norte-americano, Austin destacou que o país se tornou "um parceiro altamente estimado" pelos EUA e um líder "em ascensão na região e além".
"Portanto, estamos a aprofundar a nossa cooperação com o Governo na modernização militar, formação, segurança marítima e prontidão médica", frisou, manifestando empenho no trabalho conjunto em áreas como a manutenção da paz, alterações climáticas, serviços de inteligência e cooperação espacial.
Lloyd Austin deu também destaque aos males da escravatura, a primeira ligação entre os Estados Unidos e Angola.
"Os horrores da escravatura farão sempre parte da história comum dos nossos dois países. E nunca os devemos esquecer", observou, notando que o oceano que outrora transportou pessoas desesperadas e escravizadas de Angola para a América é agora "uma bacia de cooperação pacífica".
"Estranhos que tentam tomar o controlo"
Para Lloyd Austin, o "fio condutor" que atravessa estas áreas é o "interesse comum numa África segura, resiliente e aberta", garantindo que os Estados Unidos não tomam estas parcerias como garantidas.
"Os povos de África merecem traçar os seus próprios caminhos soberanos. E não estamos a pedir aos países africanos que escolham outro lado que não o seu", vincou o responsável da Defesa.
"África merece mais do que estranhos que tentam tomar o seu controlo sobre este continente. E África merece mais do que autocratas a vender armas baratas, a empurrar forças mercenárias como o grupo Wagner ou a privar de cereais pessoas famintas de todo o mundo", acrescentou.
Moçambique é exemplo
As ameaças à estabilidade incluem ainda o extremismo violento, a pirataria, as vulnerabilidades cibernéticas e as catástrofes climáticas, "agravadas por uma governação ténue, instituições predatórias ou pobreza persistente", apontou.
Lloyd Austin realçou a cooperação já existente em matéria de segurança marítima e o papel do Africom (Comando dos Estados Unidos para África) no combate às organizações extremistas, como o Al-Shabaab ou o Estado Islâmico (ISIS).
"Um dos nossos principais parceiros neste domínio é Moçambique, cujo Presidente recebi no Pentágono na semana passada", afirmou.
A cooperação estende-se também à segurança cibernética "para ajudar os países africanos a combater a maldade digital da desinformação externa", exploração espacial, saúde e alterações climáticas, acrescentou.