“Não vejo saída, a não ser a provável insolvência da Printer – do ponto de vista racional e dos ‘cashflows’ gerados”, disse Álvaro Sobrinho numa audição na Comissão de Trabalho, Segurança Social e Inclusão.
Segundo o empresário angolano, mesmo que um acionista queira recuperar a empresa, o negócio “vai ter sempre” de ultrapassar o que consideram ser danos reputacionais.
“Fatores exógenos, não são endógenos, mas exógenos, danificaram aquilo que é o grande ‘goodwill’ de uma empresa, que é a sua imagem”, lamentou Álvaro Sobrinho, que considerou que a imagem de qualquer empresa “é sempre danificada quando se alega que os acionistas são oligarcas, são ‘gangsters’”.
Além dos cerca de 120 trabalhadores, Álvaro Sobrinho apontou que a insolvência da Printer Portuguesa poderá afetar perto de 380 trabalhadores na região de Sintra, e de “pequeníssimas empresas que dependem da Printer para sobreviver”.
Durante a audição, requerida pelo Bloco de Esquerda (BE), Álvaro Sobrinho considerou que “não houve sensibilidade” do juiz Carlos Alexandre na aplicação de medidas de coação, em março de 2022, que afetaram ainda o grupo editorial Babel.
A “Printer não funciona atualmente porque o juiz Carlos Alexandre decidiu arrestar as contas da Printer”, criticou, acrescentando que, “no limite, o que devia ser feito era arrestar as ações, não as contas”.
“Imagine-se, um acionista de uma empresa que tenha ações em tribunal, vão lá e arrestam as contas da empresa. A empresa vai à falência, qualquer empresa vai à falência”, sublinhou o antigo presidente do Banco Espírito Santo Angola (BESA).
Álvaro Sobrinho disse ainda que a empresa foi alvo de um ataque informático que resultou em problemas administrativos, também na gestão do pagamento dos salários.
“O ataque informático foi tão grave que foi comunicado às autoridades, Polícia Judiciária e órgãos competentes e deixou a Printer sem sequer saber como iria pagar e fazer a alocação dos salários. Foi completamente apagada durante semanas”, apontou.
O empresário explicou que aquando da aquisição a um grupo alemão, em 2012, a empresa contava com um fluxo de caixa negativo de cerca de três milhões de euros e que injetaram, desde então, cerca de 12 milhões de euros.
Álvaro Sobrinho garantiu que a administração tentou “até ao máximo salvar a empresa”, tendo encetado conversas com a justiça para tentar levantar as penalizações sobre as contas da Printer Portuguesa.
“Nós tentamos sempre não despedir e não entrar em ‘layoff’ ou em coisas mais dramáticas porque nós queríamos salvar a Printer”, apontou, acrescentando que havia encomendas para fazer.
Desde aí, houve uma perda de clientes e “morreu a esperança”.
O presidente da empresa rejeitou ainda que haja qualquer ‘lockout’ ou bloqueio aos trabalhadores para entrarem nas infraestruturas, algo que terá sido confirmado por uma inspetora da Autoridade para as Condições do Trabalho.
“Verificou ‘in loco’ que era impossível os trabalhadores terem condições de segurança para entrarem dentro da fábrica. E disse mais: ‘se vocês deixarem entrar e acontecer qualquer acidente (…) a responsabilidade é da administração”, afirmou.
“Os trabalhadores entram para ir buscar os objetos lá dentro, entram um a um para ir buscar os seus objetos pessoais. Foi assim que nos foi ordenado para fazer”, explicou.