Este leilão, que foi noticiado pela Bloomberg, surge num momento em que se aguarda a depreciação do Kwanza e o estabelecimento de uma banda cambial de flutuação controlada e cuja média vai ser definida pelos valores das vendas de divisas pelo BNA. A banda cambial dentro da qual vai flutuar o câmbio do Kwanza não tem valores fixos, como explicou o governador do BNA, José de Lima Massano, na semana passada, quando anunciou o caminho em direcção à depreciação (perda de valor) da moeda face ao dólar, mas à qual estará atento e pronto a intervir no caso dessa tal banda de flutuação vier a ser ultrapassada.
O leilão de hoje, mesmo que não venha a ser o primeiro fora da ligação fixa ao dólar e ao euro, de 167 e 187 kwanzas respectivamente, vai ser decisivo para se perceber a disponibilidade dos bancos comerciais e a sua acção estratégica para lidar com a nova realidade.
Mas é ainda mais importante para o BNA poder definir com mais rigor a ligação à realidade da tal banda de flutuação cambial, tendo em conta que no mercado paralelo o euro já é transaccionado acima dos 500 kwanzas e o dólar norte-americano perto dos 430 kwanzas.
Para alguns economistas, como contaram ao Novo Jornal Online, o novo câmbio médio não deverá andar longe dos 218 a 222 kwanzas/dólar, podendo a banda de flutuação ser definida em torno deste objectivo estratégico do BNA, embora esses mesmos economistas admitam que este horizonte possa ser revisto de forma a proceder a um reajustamento periódico conforme reagir o mercado da rua, ou oficioso.
Os 100 milhões de dólares que deverão, segundo a Bloomberg, estar em leilão hoje, são, por isso, um primeiro teste à nova estratégia cambial do Executivo e do BNA, podendo mesmo acontecer também hoje a primeira venda de acordo com as novas regras, dentro ou fora deste montante.
A depreciação do Kwanza é uma forma que os governos de vários países encontraram para conseguirem controlar as quebras de reservas em moeda estrangeira e, entre outras consequências, impulsionar o sector das exportações que ficam mais baratas para os importadores ao desvalorizar a moeda nacional.
Para os empresários angolanos ou estrangeiros a actuar no mercado produtivo e comercial angolano, como admitiram ao Novo Jornal Online alguns que viram os seus negócios sofrer até aqui com a míngua de divisas para poderem importar matéria-prima ou, entre outras, por exemplo, peças sobressalentes para as suas máquinas, este novo modelo cambial é bem-vindo porque "vão deixar de ser sempre os mesmos os escolhidos pelo BNA para receberem divisas".
Até agora, todas as divisas que saiam do BNA era este que definia a quem seriam entregues, mas agora, depois do leilão sujeito à banda cambial, são os bancos comerciais que definem a quem vender as divisas.
Isso, enfatizam estes empresários com quem o Novo Jornal Online falou sobre o assunto, permitirá que os bancos sejam confrontados com a capacidade, maior ou menor, de argumentação dos empresários para terem acesso a divisas.
Um dos exemplos avançados é este: se um empresário tiver 140 milhões de kwanzas num banco e estiver a ter dificuldades em obter divisas, basta dizer que retira o seu dinheiro para um banco da concorrência para, pelo menos, fazer com que o gestor pense duas vezes a quem vai atribuir as divisas.
Para já, como a maioria dos analistas esperam, o Kwanza verá uma prolongada temporada de depreciação, que poderá ser mais ou menos volátil, dependendo isso da economia e das suas particularidades, como sejam a dependência ainda do petróleo e dos preços que este vier a registar nos próximos tempos, sendo de lembrar que actualmente está perto dos 68 dólares por barril e em Fevereiro de 2016 estava na casa dos 20 USD.
No entanto, segundo fontes do Novo Jornal Online, na segunda-feira terá ocorrido um leilão limitado de divisas, num formato que o BNA não anunciou, onde o euro terá valorizado pouco mais de 7 por cento face ao Kwanza.
Não está a ser possível na manhã de hoje confirmar os câmbios em prática no BNA porque o seu site online está em baixo há várias horas. NJ