Os dados, compilados hoje pela agência Lusa, resultam de informação do banco central angolano relativa a 2017, bem como o histórico das vendas de divisas desde o ano 2000.
Em mais 18 anos de registo, nunca o banco central tinha deixado de vender dólares norte-americanos aos bancos, o que aconteceu pela primeira vez em 2017, num aparente efeito das restrições impostas pela Reserva Federal norte-americana no acesso a dólares por parte de Angola.
O BNA vendeu aos bancos comerciais 10.936 milhões de euros em divisas em todo o ano de 2017, exclusivamente em moeda europeia. A introdução da venda de moeda europeia como divisas, necessária por exemplo para garantir a importação de alimentos e matéria-prima por Angola, já tinha arrancado no ano anterior.
O banco central angolano vendeu em 2016 um total de divisas de 9.262 milhões de euros, acrescidos de 832 milhões de dólares (672 milhões de euros, à taxa de câmbio atual).
A última vez que o BNA disponibilizou dólares ao sistema bancário angolano aconteceu em outubro de 2016, com a venda de 9.588.075 dólares (7,7 milhões de euros, à taxa de câmbio atual).
Antes de 2016, nunca o banco central tinha vendido euros aos bancos angolanos.
O montante de divisas (euros) vendido em 2017 compara com 2011, quando o BNA vendeu 967 milhões de dólares (780 milhões de euros) em todo o ano.
Angola enfrenta ainda desde finais de 2014 uma profunda crise financeira, económica e cambial, decorrente da baixa prolongada da cotação do barril de petróleo no mercado internacional, com os bancos a dependeram quase exclusivamente do BNA para comprarem divisas (euros e dólares), limitando posteriormente a venda a clientes.
Antes dos efeitos da crise, o BNA vendeu, só em 2013, mais de 1.600 milhões de dólares (1.290 milhões de euros, à taxa de câmbio atual).
Entretanto, desde 09 de janeiro que a moeda europeia passou a ser oficialmente a referência para o mercado de câmbios de Angola, no novo regime flutuante cambial, em que o mercado define a taxa de câmbio com base na compra de divisas (euros) pelos bancos comerciais, em leilão de preços.
O novo regime flutuante cambial começou a ser aplicado numa altura em que as Reservas Internacionais Líquidas do país estão em mínimos históricos, inferiores a 12.000 milhões de euros, devido à crise da cotação do petróleo.
Com o novo modelo, a moeda angolana já acumula uma depreciação de 28% para o euro e 20% para o dólar, segundo cálculos feitos pela Lusa com base nas novas taxas cambiais.
Contudo, face à falta de divisas aos balcões dos bancos, o mercado de rua, embora ilegal, continua a ser para muitos nacionais e estrangeiros uma alternativa, apesar dos preços especulativos, a mais do dobro da taxa oficial.