O dinheiro deu entrada em Portugal nas contas pessoais do general Kopelipa, como também é conhecido, e em contas de sociedades offshore, para as quais tinha autorização de movimentação, entre setembro de 2006 e fevereiro de 2013.
Os documentos do processo 208/13, a que o Correio da Manhã teve acesso, revelam que as verbas deram entrada nas contas pessoais do general angolano e das sociedades offshore, muitas delas com sede nas Ilhas Virgens Britânicas, através de cerca de 160 operações financeiras em euros e dólares. Dos 402 milhões de euros (verba que inclui a conversão de dólares em euros ao câmbio actual) sob suspeita, 304,4 milhões de euros entraram nas contas das sociedades offshores no BES e no BCP e 97,7 milhões de euros foram creditados nas contas pessoais do general Kopelipa no BCP, no Banco Privado Atlântico -Europa, no BES e no BIG.
A investigação ao general angolano chegou a ser arquivada pelo então procurador do processo, Paulo Gonçalves, em agosto de 2014. Na altura, o magistrado concluiu, após analisar os suportes bancários das operações financeiras que Kopelipa juntara ao processo, que o dinheiro movimentado estava explicado e tinha origem lícita. Só que, no mês seguinte, o director do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), Amadeu Guerra, reabriu o inquérito, através de despacho hierárquico. Para Amadeu Guerra, algumas das operações financeiras não tinham sido justificadas.
Os peritos do DCIAP analisaram, já no final desse ano, os documentos e esclarecimentos do general angolano e concluíram não ser possível identificar a origem inicial do dinheiro. Por isso, foram pedidos documentos adicionais aos bancos.
Defesa de Kopelipa diz que dinheiro foi usado para compras
Paulo Blanco, advogado do general Kopelipa, diz que “a maioria dos referidos 400 milhões de euros, movimentados entre 2006 e 2013, se destinaram, como decorre da documentação apresentada e dos actos comerciais subjacentes, a pagar mercadorias, equipamentos e serviços a fornecedores no exterior de Angola, designadamente em Portugal”.
O general Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa” afirma, no requerimento em que apresentou a justificação das operações bancárias, que não cometeu crimes. Diz que o dinheiro é de poupanças e investimentos.
Queixas de Adriano Parreira e de Rafael Marques
A investigação ao general Kopelipa, no âmbito do processo 208/13, resultou de uma certidão extraída do inquérito 142/12, no qual são também investigados cidadãos angolanos. Os casos tiveram origem em queixas apresentadas por Adriano Parreira e Rafael Marques, ambos cidadãos angolanos.
Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa” foi, durante a presidência de José Eduardo dos Santos, um dos homens com mais poder em Angola: foi ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente da República. Em Portugal tem investimentos nas seguintes empresas: Colinas do Douro -Imobiliária, WWC – Wide Services Unipessoal e BIG. CM