Ao falar no "workshop" sobre "Mercados de Capitais", em Luanda, o representante do Banco Mundial em Angola, Olivier Lambert, sublinhou que a diversificação do setor financeiro é importante para a economia, porque não se pode confiar somente no sistema bancário para o financiamento da economia real numa altura em que a economia está a atingir um maior nível de sofisticação e exigências.
No domínio do sistema financeiro, referiu, a parceria entre o Governo angolano e o Banco Mundial tem sido concretizada com base numa "relação estreita" com o Banco Nacional de Angola (BNA) há já alguns anos, com duas áreas de atuação relevantes, no caso o sistema de pagamento e o mercado interno de títulos públicos.
Olivier Lambert salientou que o desenvolvimento da economia angolana é importante para região subsariana, tendo em conta o facto de Angola ser, atualmente, a terceira maior economia da África a Sul do Saara, depois da Nigéria e da África do Sul.
"No atual contexto de reformas profundas, o fortalecimento e a dinamização do setor privado é crucial para o desenvolvimento sustentável de Angola e estará no centro do enfoque do novo quadro de parceria do Banco Mundial com o Governo de Angola", garantiu.
Por seu lado, o diretor-geral da Unidade de Gestão da Dívida Pública (UGD) do Ministério das Finanças angolano, Walter da Cruz Pacheco, disse que os alicerces para o desenvolvimento económico no país estão criados, pelo que a aposta recai no potencial interno e no fomento do setor privado.
Segundo Cruz Pacheco, Angola vive um momento "desafiante", pois tem de fazer face ao contexto macroeconómico para mitigar o fenómeno da dívida pública, inflação alta, redução das reservas do BNA e, sobretudo, os níveis básicos de crescimento económico.
Por outro lado, insistiu no resgate da credibilidade das instituições públicas, no combate à corrupção e na abertura da economia ao setor privado e ao investimento.
Ao intervir na sessão, o vice-tesoureiro da Corporação Financeira Internacional (IFC - sigla em inglês), Andrew Cross, entende que a criação das infraestruturas financeiras são "muito importantes" para obter financiamento.
"Angola precisa de concorrer aos mercados cambiais para responder às exigências locais, devendo criar uma plataforma onde todos podemos cooperar. As consequências serão boas, desde que haja a parceria de quadros nacionais", defendeu.
Andrew Cross considerou os mercados de capitais como "fontes", onde o financiamento local é importante, face a uma desvalorização de uma moeda local, tendo em conta o impacto das populações.
O workshop de Mercados de Capitais em Angola é organizado pela Corporação Financeira Internacional (IFC), em colaboração com o ministério das Finanças angolano, BNA, Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA) e a Comissão de Mercados de Capitais (CMC).
O evento visa reunir os principais participantes dos mercados de capitais (reguladores, decisores políticos e profissionais do setor privado) para discutir formas de desenvolver o mercado de capitais e de dívida em Angola.
O BNA colocou a dívida pública total do país no final do ano passado em 78.570 milhões de dólares (68,9 mil milhões de euros), representando 71,04% do Produto Interno Bruto (PIB), devido à subida do endividamento interno, situando-se fora da meta de 60% do PIB definida pela Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).
No relatório e contas do BNA, especifica-se que "o stock da dívida interna (títulos públicos) ascendeu a 34,83 mil milhões de dólares (31,49% do PIB)".
"Por sua vez, o stock da dívida externa ascendeu aos 43,74 mil milhões de dólares, passando a representar 39,55% do PIB", lê-se.
O aumento da dívida pública foi uma das razões que levou algumas agências de notação financeira a descer o 'rating' de Angola no ano passado, sendo que as três principais (Moody's, Standard & Poor's e Fitch) colocam o país abaixo do nível de recomendação de investimento, ou 'lixo' ou 'junk', como normalmente é conhecido.