Em declarações à Lusa, à margem de uma conferência "Financing Investment in Africa", realizada em parceria com o Banco Europeu de Investimento (BEI) e a SOFID -- Sociedade para o Desenvolvimento do Financiamento, que decorre esta manhã em Lisboa, Brunno Maradei acrescentou que esse cenário já acontece com o novo executivo, liderado desde setembro de 2017 pelo Presidente João Lourenço.
"Não podemos trabalhar muito com pessoas politicamente expostas, isso dificulta o processo; como a família dos Santos estava muito presente na economia angolana até há pouco tempo, é difícil encontrar as companhias certas para trabalhar de uma maneira liberal", disse Brunno Maradei.
"Uma das coisas com que nos preocupamos é o sistema de contratação, ou seja, se o BEI financia um projeto, vai querer saber se o projeto vai ser contratado ao abrigo das leis de mercado, queremos ver um processo competitivo, no mínimo, para as empresas europeias, mas idealmente para todas as companhias internacionais", disse Brunno Maradei.
"Tem de haver um processo competitivo, ser uma coisa justa, e seguindo as leis da União Europeia, e isso não estava a acontecer muito em Angola, os angolanos não queriam abrir o seu mercado às companhias europeias, e isso causava-nos um problema, porque não podemos financiar esse tipo de projetos", acrescentou o responsável.
Desde a entrada em funções do novo Governo do Presidente João Lourenço, o panorama mudou, disse Brunno Maradei: "Isso já mudou bastante, eles estão a conversar com a nossa delegação europeia, a dizer que querem fazer esse tipo de contratação aberta, internacional, num processo competitivo, e assim podemos participar muito mais nesse tipo de projetos", salientou.
Questionado sobre os montantes e os limites para os empréstimos, o responsável no BEI pelo 'project finance' disse que não há limites por país: "Em 'project finance', começamos nos 10 milhões de euros mas podemos subir até 40, ou 70, ou mesmo 150, dependendo da qualidade de crédito do projeto, mas não há um limite para o país", vincou.
De acordo com os dados divulgados na conferência que decorre esta manhã no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, o BEI investiu, no ano passado, cerca de 3,3 mil milhões de euros no continente africano, divididos sensivelmente ao meio entre o norte de África e a África subsaariana, sendo que a divisão entre o setor público e o setor privado é também sensivelmente pela metade.
O BEI é uma instituição multilateral de financiamento, atuando com o implementador da política externa da União Europeia, tendo como principais objetivos para os investimentos aliviar a pobreza e criar emprego.