"Só queremos testar. Estamos aqui a brincar ou levar as coisas a sério. Se estivermos num país verdadeiramente democrático, então temos de mudar, mas se estivermos num país do 'pai banana', como se diz, naturalmente que vamos continuar a ver as violações a acontecerem", afirmou Samakuva, em declarações à agência Lusa, em Luanda.
O líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) falava durante uma manifestação convocada pelo partido para contestar a contratação - por adjudicação direta - de duas empresas conotadas com o Governo para a preparação das eleições gerais de agosto, que o partido apelida de "fraude eleitoral".
Em causa estão alegadas ilegalidades no procedimento contratual de duas empresas, SINFIC, portuguesa mas ligada a capitais angolanos, e INDRA, espanhola, para a elaboração dos cadernos eleitorais e o credenciamento dos agentes eleitorais e o fornecimento de material de votação e da solução tecnológica, respetivamente, e que já participaram nas eleições de 2012.
O protesto, de caráter nacional, juntou em Luanda milhares de pessoas, que marcharam a pé durante cerca de três quilómetros, exigindo eleições livres e justas, levando o presidente da UNITA a afirmar tratar-se de um "dia histórico na luta por uma Angola livre e verdadeiramente democrática".
"Nós certamente que vamos continuar se aquilo que estamos a exigir agora não for satisfeito. Até obter a reparação das violações que estão a ser cometidas. Se o quadro não for invertido, nós vamos continuar com manifestações", afirmou à Lusa o líder do maior partido da oposição.
A UNITA convocou esta manifestação, de caráter nacional, para exigir que a CNE inicie novo processo contratual das empresas para prestar apoio tecnológico às eleições gerais.
Durante o protesto, o partido acusou a CNE de "prática fraudulenta", ao ter feito uma adjudicação direta na contratação das duas empresas de forma ilegal, num negócio que ronda os 143 milhões de euros e que, por isso, devia ter sido alvo de concurso público, e que as mesmas empresas tiveram "informação privilegiada", além de terem já participado "na fraude de 2012 [eleições gerais]".
"Se as pessoas dizem estar num Estado de Direito, então têm de o mostrar, cumprindo com as leis que, por sinal, eles próprios fizeram", criticou Isaías Samakuva, que é cabeça-de-lista da UNITA pelo círculo nacional nas eleições de 23 de agosto, e candidato dessa forma à eleição por via indireta para o cargo de Presidente da República.
A UNITA considerou anteriormente que não estão criadas as condições para a realização de eleições, previstas para 23 de agosto, e que a conduta da CNE, na organização eleitoral, "ofende os princípios da democracia, da legalidade, da lisura e da transparência"
Adalberto da Costa Júnior, líder parlamentar da UNITA, acusou a CNE de ter cometido, "pelo menos, duas violações à lei", utilizando, "aparentemente, o procedimento inerente ao concurso público para efetuar, de facto, uma contratação simplificada".
"Simulou dois concursos públicos quando já tinha na manga a intenção de escolher duas empresas amigas do MPLA (partido no poder): a INDRA, que já participou na fraude eleitoral de 2008, associada à Valley Soft, uma empresa controlada pela Casa Militar do Presidente da República", apontou.
À SINFIC é igualmente atribuída a acusação de ter ajudado o Ministério da Administração do Território "a fazer cadernos eleitorais incorretos em 2012" e de controlar os programas informáticos que produziram a Base de Dados dos Cidadãos Maiores, que "permitem os registos duplos", refere a UNITA.
LUSA