"O novo Presidente, provavelmente João Lourenço, vai ter que considerar a possibilidade de uma assistência financeira, e acho que é um cenário provável Angola recorrer ao Programa de Financiamento Ampliado [Extended Fund Facility, em inglês] no princípio do próximo ano, depois de o período eleitoral passar", disse Alex Vines.
Entrevistado pela Lusa em Londres, na sede da Chatham House, o analista defendeu que "Angola beneficiaria disto, desde logo porque é mais barato", e lembrou que no ano passado, quando Angola recuou na intenção de usar o mecanismo de ajuda financeira do FMI e ficar-se pela assistência técnica, sentiu-se muito desiludido.
"Fiquei mesmo dececionado quando rejeitaram o EFF, porque era mesmo o que o país precisava; a disciplina e a parceria com o FMI seria boa, mas isto não aconteceu porque os preços do petróleo melhoraram e porque, mais importante, as autoridades olharam para isto e pensaram que não queriam constrangimentos sobre a despesa num período pré-eleitoral", considerou Vines.
O aumento da despesa antes das eleições "é um padrão normal para qualquer Governo", admitiu o diretor do Programa África naquela instituição londrina, mas a diferença sobre o ano passado é que "o mercado financeiro tem agora menos apetite por Angola, porque o prolongamento dos preços baixos do petróleo piorou a perceção do risco sobre o país, deixando os investidores mais reticentes e o financiamento mais caro".
A diversificação económica torna-se, assim, mais premente, e será um dos temas que o novo Presidente terá de resolver desde o início do seu mandato.
"Lourenço [candidato do partido no poder] ou seja quem for vai ter mesmo de fazer uma mudança estrutural sobre a implementação de diversificação, porque toda a gente fala nisso há décadas mas agora tem mesmo de ser a sério, porque não há outra escolha", disse Vines.
"A crise foi boa para forçar a diversificação e reduzir a dependência do petróleo", que vale mais de 75% das receitas fiscais e representa mais de 95% das exportações, considerou.
O Governo angolano "pensou que a descida do preço do petróleo seria passageira, e que podiam aguentar-se uns 18 meses com preços baixos, e em boa verdade conseguiram responder à crise melhor do que a Nigéria ou a Guiné Equatorial, por exemplo, e emitiram `eurobonds` porque os mercados estavam confiantes numa recuperação relativamente rápida dos preços e que Angola tinha dinheiro para aguentar e sair do problema", mas o problema veio a seguir.
"Eles nunca pensaram que o problema ia manter-se e por isso as reservas baixaram significativamente, e agora estamos em terreno desconhecido, que ninguém esperava em Angola", concluiu.