"Os decisores políticos de Angola permitiram que o kwanza se desvalorizasse 39,5% em junho, e pensamos que a moeda vai continuar a depreciar-se durante o resto do ano, caindo mais 16,8% do ponto médio de 830 kwanzas por dólar, para 1.000 kwanzas por dólar", escrevem os analistas num comentário à evolução do kwanza.
Na análise, enviada aos clientes e a que a Lusa teve acesso, esta consultora detida pelos mesmos donos da agência de notação financeira Fitch Ratings antevê que no próximo ano o kwanza venha a estabilizar à volta deste câmbio, com uma ligeira subida no preço mundial do petróleo e uma taxa mais baixa de queda da produção petrolífera.
"A forte exposição de Angola à volatilidade externa que afeta o setor petrolífero apresenta um risco de depreciar o kwanza ainda mais do que as previsões", alertam ainda.
Para a BMI, há três fatores que explicam a desvalorização do kwanza nos últimos meses: o final da moratória de três anos sobre a dívida chinesa, que terminou no primeiro semestre deste ano e coloca pressão sobre as reservas em moeda externa, a queda das receitas petrolíferas devido à redução de preços e produção, e os cortes na taxa de juro entre janeiro e junho, para 17%.
"No curto prazo, antevemos que estes fatores vão continuar a fazer com que a depreciação do kwanza persista", lê-se na análise à moeda angolana.
Em 2024, concluem, o kwanza deverá estabilizar-se, terminando nos 1.010 kwanzas por dólar no final do ano, principalmente devido a uma ligeira subida nos preços do petróleo e a uma taxa mais lenta de declínio da produção de petróleo.
O comentário especificamente sobre a evolução do kwanza surge poucos dias depois da revisão da perspetiva de crescimento, com os analistas da BMI a preverem agora uma recessão económica em Angola este ano, com uma queda de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB).
"Prevemos que o PIB real vá contrair-se 0,7% em 2023, depois de uma expansão de 3,1% em 2022, o que é uma revisão em baixa face à nossa anterior previsão de 1,8%", lê-se numa nota enviada aos investidores.
Na revisão das perspetivas de evolução da economia de Angola, os analistas explicam que "esta revisão reflete largamente o impacto da forte desvalorização do kwanza em junho", e acrescentam que "o aumento da inflação vai impactar no consumo das famílias e no investimento das empresas, o que coloca ainda mais pressão descendente na atividade económica do setor petrolífero".