"De facto, existe a possibilidade de o petróleo vir a atingir três dígitos, se o conflito entre a Rússia-Ucrânia se intensificar nos próximos dias e se não surgirem novos desenvolvimentos em torno das negociações", disse o analista Henrique Tomé, da corretora XTB, em declarações à Lusa.
O preço do barril de petróleo Brent ultrapassou esta manhã a barreira dos 95 dólares no mercado de futuros de Londres, tocando os 96,16 dólares por barril, um máximo desde outubro de 2014. Às 17:00 (hora de Lisboa) o barril de Brent negociava nos 94,75 dólares.
Henrique Tomé recorda que a Rússia é um dos principais produtores de petróleo à escala mundial e tem um papel estratégico na produção e no fornecimento de petróleo.
"Uma quebra na produção russa teria um impacto significativo no preço da matéria-prima, principalmente nesta altura em que os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) permanecem cautelosos em relação a novos aumentos dos níveis de produção", disse, salientando que "a oferta de petróleo continua (artificialmente) limitada pela OPEP e uma redução na oferta por parte da Rússia teria um impacto significativo no preço do petróleo, bem como também no preço do gás natural, sobretudo aquele que é vendido na Europa e uma vez que a procura continua elevada".
O analista da XTB vinca a elevada incerteza em torno da escalada de tensão entre a Rússia e a Ucrânia, sublinhando que, "enquanto não existir um desfecho deste assunto, a instabilidade poderá continuar a dominar os mercados e o preço do petróleo continuará exposto a períodos de maior volatilidade".
Ricardo Marques, analista da IMF - Informação de Mercados Financeiros, explica que, aliado à tensão entre a Ucrânia e a Rússia, a OPEP e os seus aliados estarem a produzir abaixo do estabelecido nas últimas reuniões, a produção dos EUA continuar "muito abaixo dos níveis a que se produzia antes da pandemia" e o consumo de combustíveis ter vindo "a subir à medida que as restrições associadas à pandemia vão sendo levantadas", tem influenciado o aumento dos preços.
O analista acredita que "a OPEP e os seus aliados não vão conseguir repor na totalidade os cortes implementados no início da pandemia, por dificuldades técnicas de alguns países e por falta de investimento", que os Estados Unidos "também dificilmente irão retornar aos níveis de produção anteriores" e o "consumo de petróleo continuará a subir ao longo deste ano", pelo que considera que, paralelamente à questão russa, a evolução dos preços nos próximos tempos dependerá se face aos atuais preços "os produtores irão forçar um aumento de produção para aproveitar as atuais circunstâncias de mercado" e se "o mundo continuará a consumir mais petróleo, ou pelo contrário irá moderar o seu consumo".
"A isto podemos acrescentar outro fator que tem a ver com a produção do Irão. Nesta altura o país continua a ser alvo de sanções por parte dos EUA e está a exportar muito abaixo do seu potencial. Caso se chegue a um entendimento, o Irão poderá aumentar as exportações e ajudar a equilibrar um pouco o mercado", acrescenta.