"Aquele órgão deliberativo máximo do MPLA no intervalo dos congressos aprovou a instauração de um processo disciplinar e a aplicação da medida de suspensão de membro do Comité Central à camarada Welwitschea José dos Santos, por conduta que atenta contra as regras de disciplina do partido", lê-se no comunicado sobre a quinta sessão extraordinária do Comité Central do MPLA.
A reunião decorreu hoje em Luanda, sob a presidência de João Lourenço, líder do MPLA e Presidente da República.
Em entrevista à Lusa, a deputada angolana do MPLP 'Tchizé' dos Santos, filha do ex-Presidente da República José Eduardo dos Santos, disse que o atual chefe de Estado de Angola está a fazer um "golpe de Estado às instituições" em Angola e pedia a destituição de João Lourenço.
A deputada, que é membro do Comité Central do MPLA, cargo do qual foi suspensa, assumiu, na mesma entrevista, que estava "involuntariamente" fora do país devido à doença da filha e que há vários meses estava a ser "intimidada" por dirigentes do partido no poder desde 1975.
Face à realidade - descreveu - em Angola, a deputada adiantou que estava a procurar advogados em Luanda para avançar para o Tribunal Constitucional angolano com uma participação sobre o seu caso, seguindo ainda com "um pedido de 'impeachment' [destituição]" de João Lourenço no parlamento, procurando para tal o apoio de deputados para uma proposta de Comissão de Parlamentar de Inquérito para apurar a conduta do atual chefe de Estado.
O porta-voz do MPLA, reagiu no dia seguinte, considerando "muito graves" as declarações da deputada angolana Tchizé dos Santos.
Segundo as declarações de Paulo Pombolo, secretário para a Informação do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), na latura, o partido tem órgãos próprios - Comissão Nacional de Disciplina e Auditoria - e iria analisar as declarações da filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos à luz dos estatutos partidários.
"Exigir a destituição do Presidente João Lourenço? Acusar o Presidente de ser um ditador? De estar a fazer um golpe de Estado às instituições em Angola? Tem provas? São palavras absurdas e declarações graves, muito graves, que o partido vai analisar", afirmou Paulo Pombolo à Lusa, garantindo que a expulsão de Tchizé dos Santos não está sequer equacionada.
O chefe de Estado de Angola considerou, poucos dias depois, a 18 de maio, que a ausência do Parlamento, há mais de 90 dias, de Tchizé dos Santos, deputada do seu partido, o MPLA, devia ser esclarecida pelo Presidente da Assembleia Nacional (AN).
"Eu acho que é uma questão a ser respondida pelo presidente da Assembleia Nacional [Fernando Piedade Dias dos Santos (Nando)", respondeu João Lourenço, nada mais adiantando sobre a situação em que se encontra a deputada do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), de que também é líder.
Na entrevista à Lusa, 'Tchizé' explicava as ameaças de que era alvo - apontando mesmo uma alegada lista de várias figuras angolanas ligadas ao período da governação do seu pai, José Eduardo dos Santos (1979 -- 2017), que as autoridades pretendem impedir de sair de Angola - por ser uma voz que contesta algumas das orientações de João Lourenço, Presidente da República e líder do MPLA.
"O Presidente da República é conivente porque nada faz", críticou.
"Está a haver um crime contra o Estado. Isto é um caso para 'impeachment'. Este Presidente da República merece um 'impeachment'", afirmou Welwitschea 'Tchizé' dos Santos, considerada a filha mais próxima, politicamente, do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos.