O réu negou, no entanto, qualquer classificação desses documentos como secretos, por, no seu entender, não constituírem perigo algum à segurança nacional, apesar de reconhecer o seu carácter militar e titularidade do estado angolano, que os adquiriu das autoridades sul-africanas por montante superior a dois milhões de dólares norte-americanos.
Acusado pelos crimes de insubordinação e extravio de documentos, aparelhos ou objectos com informações de carácter militar, o general explicou que a pesquisa resultou de uma orientação dada pelo ex comandante-em–chefe da Forças Armadas, José Eduardo dos Santos, para divulgação do percurso político, diplomático e militar de Angola desde 1975 a 1988.
Questionado sobre razões que o levaram a transportar os referidos documentos para a Fundação Eduardo dos Santos (FESA), argumentou que é pretensão desta organização criar um centro de estudos estratégicos, no qual estava a trabalhar, dando primazia aos acontecimentos ocorridos na celebre batalha.
Ao esmiuçar os seus argumentos de razão, frisou que o montante empregue para a aquisição do referido material saiu de uma dotação especial dada pelo ex presidente da República, José Eduardo dos Santos, uma vez que esta verba não estava orçamentada no Serviço de Inteligência e Segurança Militar.
Negou a informação constante na acusação, segundo a qual lhe tinham sido dadas 48 horas para a devolução dos documentos.
Sublinhou que em nenhum momento lhe foi exibido qualquer documento assinado pelo Chefe de Estado com a referida ordem, sendo que a mesma foi-lhe transmitida verbalmente.
Disse que, na ocasião, sugeriu que esta questão fosse tratada entre o actual Presidente da República , João Lourenço, e o ex, José Eduardo dos Santos, uma vez que os documentos se encontravam na FESA.
Porém, admitiu que alguns documentos foram apreendidos na sua residência na Praia do Bispo e outros na FESA.
Em relação ao assunto, o chefe adjunto do Serviço de Inteligência e Segurança Militar, tenente general Carlos Felipe (Feijó), considerou secretos os documentos retirados pelo general António José Maria por conterem dados militares pertencentes às Forças Armadas sul-africanas.
Por isso, alertou para o perigo dessas informações caírem em mãos irresponsáveis e serem divulgadas, o que obrigaria as autoridades sul-africanas a mudar por completo os seus códigos e símbolos militares.
Iniciado na quarta-feira, o julgamento prossegue na sexta com a audição dos declarantes.