“É com grande indignação que condenamos, de forma veemente, a interferência inaceitável do Presidente da República da África do Sul, Cyril Ramaphosa, ao manifestar publicamente o seu apoio ao candidato da Frelimo, Daniel Chapo, em plena campanha eleitoral para as eleições de Moçambique, agendadas para o próximo dia 09 de outubro”, refere a organização não-governamental (ONG) moçambicana, em comunicado.
Chapo foi recebido na terça-feira pelo Presidente da África do Sul, considerando o encontro como um sinal de “alinhamento com o projeto” que tem para Moçambique. “Fomos recebidos em Pretória [capital da África do Sul pelo Presidente Cyril Ramaphosa. Um encontro frutífero e alinhado com o nosso projeto de levar Moçambique para a frente”, escreveu aquele candidato presidencial na sua página da rede social Facebook, mensagem que acompanha com fotografias.
“O encontro realizado ontem [terça-feira] em Pretória entre o Presidente Cyril Ramaphosa e o secretário-geral da Frelimo constitui uma clara violação do princípio da não-interferência nos assuntos internos dos estados soberanos, consagrados tanto pela SADC [Comunidade de Desenvolvimento da África Austral] quanto pela União Africana”, lê-se na nota de imprensa que o CDD divulgou hoje.
A intervenção do Presidente sul-africano a favor de Daniel Chapo, em plena campanha eleitoral, representa um flagrante abuso da sua posição de chefe de Estado e de líder de um partido dominante, o Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla inglesa), num país vizinho, avança-se no comunicado.
“Tal atitude interfere diretamente no processo democrático de Moçambique, colocando em risco a legitimidade das eleições e comprometendo o espírito de cooperação e neutralidade que deveriam prevalecer nas relações bilaterais e regionais”, frisa-se na nota.
O CDD apela à SADC e à União Africana para tomarem uma posição firme relativamente ao caso, instando os líderes políticos a respeitarem os princípios de não interferência. Numa das imagens divulgadas na terça-feira, o chefe de Estado sul-africano e o candidato presidencial posam com a ministra dos Negócios Estrangeiros moçambicana, Verónica Macamo, que é também mandatária da candidatura de Daniel Chapo.
A África do Sul, a maior economia da região, acolhe uma numerosa comunidade de moçambicanos e faz parte do círculo eleitoral na diáspora. A Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição, acusou em julho o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, de “envolvimento” na pré-campanha da Frelimo, por se ter encontrado com Daniel Chapo. Marcelo Rebelo de Sousa também teve um encontro, em julho, com outro candidato presidencial moçambicano Venâncio Mondlane.
A Renamo apoia a candidatura presidencial do seu líder, Ossufo Momade.
Em 26 de junho, Daniel Chapo foi recebido pelo Presidente de Angola, João Lourenço, também presidente do MPLA, com o qual abordou aspetos ligados ao desenvolvimento de Angola e de Moçambique e a cooperação entre os dois países, e de quem recebeu também “garantia de apoio espiritual, moral”. Moçambique realiza em 09 de outubro as eleições gerais, num escrutínio que inclui eleições presidenciais, legislativas, das assembleias provinciais e de governadores de província.
Além de Daniel Chapo e de Ossufo Momade, concorrem à Presidência, Lutero Simango, apoiado pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira força parlamentar, e Venâncio Mondlane, apoiado pelos extraparlamentares Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos) e Revolução Democrática (RD).