As palavras acima são de um parco citadino desta nossa bela e feia, maravilhosa e horrorosa Luanda. No entanto, quando é que Luanda não esteve violenta?
Não se pode apenas entender a violência como força que se emprega para conseguir uma coisa. Mas, também como ofensas evitáveis às necessidades humanas básicas e a vida em geral, reduzindo os níveis de satisfação abaixo do que é potencialmente possível (Galtung, 1990). O Estado como pessoa de bem, tem a responsabilidade de garantir e proporcionar as mínimas condições de habitabilidade para os seus cidadãos. A violência ou criminalidade, emerge quando as pessoas são lhes coarctadas as possibilidades de satisfazerem as suas realizações corporais e mentais. As pessoas que lhes são coarctadas tais possibilidades, por razões de sobrevivência, por vezes, tendem a desviar das normas sociais prés estabelecidas pelo Estado. Os desvios das normas sociais que regem a sociedade são considerados como crimes.
Nesta perspectiva, existe um paradoxo de violência do Estado para com os cidadãos e do cidadão para com o cidadão. Visto que o Estado como pessoa de bem que tem como tarefa árdua satisfazer as necessidades básicas das pessoas não cumpre com tal requisito e o cidadão que precisa sobreviver e como é lhe coarctada a possibilidade usa da violência não legitima para atingir seu objectivo.
Segundo Galtung (1990) a violência não pode ser vista apenas num único ângulo. Elas operam em seis campos distintos e dicotómicos, a saber: 1ª a violência física e psicológica, 2º entre os meios negativos e positivos de influência, 3º como objecta determinado e sem objecto 4º com um sujeito identificado e sem um sujeito, 5º violência intencional e não intencional, 6º manifesto e latente. No entanto, não vamos aprofundar cada um destes pontos no respectivo texto. Porém, é costumeiro apenas pensar na violência pessoal.
Independentemente da sua terminologia e a semelhança de qualquer tipo de violência que se tem verificado em Luanda, têm uma relação íntima com organização do espaço. Ou seja conforme está estruturada a cidade de Luanda. Existe uma Luanda urbana, suburbana, periférica e os musseques. Esta estruturação vincula-se a precariedade dos serviços sociais básicos tais como escolas, hospitais, zonas de lazer, luz, água, policiamento, emprego e falta de oportunidades. Pois, na maioria das vezes, os relatos de violência e crimes arrepiantes provêm em maior escala das zonas mais precárias de Luanda. Nestas zonas são notórias as ofensas evitáveis às necessidades básicas dos cidadãos.
Portanto, nesta perspectiva a violência em Luanda tende a ser consequência de políticas públicas e sociais, males gizados. Pois, não se poderá minimizar a criminalidade enquanto ainda continuar a existir um número de jovens desempregado e desocupado, quando ainda continuar existir uma tremenda assimetria entre as diferentes Luandas. Não se combate a criminalidade aumentando o número de polícias na rua ou com modernização das instituições. Por outro lado, o nível de criminalidade em Luanda, não aumentou. Ela continua na mesma proporcionalidade. A media ultimamente tem dado maior ênfase o que parecer com a criminalidade tenha aumentado em Luanda nos últimos dias.