Não se tem memória de algum membro do Executivo do Presidente João Lourenço ter recebido um cartão vermelho público como sucedeu na tarde de hoje, 18, com o ministro José de Carvalho da Rocha, com a anulação do resultado do concurso público internacional para indicação da quarta operadora de telefonia móvel, vencido pela inexpressiva Telstar.
Sim, inexpressiva no sector das telecomunicações onde não tem histórico de gestão técnica e financeira dos últimos três anos. O Presidente anulou o resultado com vista a assegurar um processo limpo e transparente. Vamos do detalhe ao pormenor.
A Telstar venceu um concurso violando regras de jogo. Não apresentou, aliás não tem, balanços e demonstrações de resultados – volume de negócios – dos últimos três anos, conforme um comunicado da Casa Civil do Presidente da República.
Ora, uma empresa criada em 2018 não tem histórico de três anos de gestão, não possui relatórios e contas desse período de exercícios de gestão. Porém, como foi possível ao ministro aceitar um concorrente nesta situação até torná-lo vencedor. Por que razão o ministro não aceitou ser transparente conforme tem sido o seu chefe máximo, o Presidente da República?
Diante da imprensa quando lhe foi indagado quais eram os demais concorrentes, preferiu fechar-se em copas e sempre com um sorriso – o mesmo sorriso maroto de sempre e única coisa que não conseguiu demonstrar, inevitavelmente, quando ocorreu o desaire estratosférico: o desaparecimento do AngoSat-1.
De lá para cá, o ministro nunca conseguiu reconstruir a sua imagem pública face ao grande desaire para a reputação de todo o Executivo de João Lourenço. Em 12 anos no cargo não conseguiu fazer da Angola Telecom uma empresa rentável, pois é a única empresa pública de telecomunicações a nível da SADC que não dá lucro ao accionista/Estado.
Vanguarda previu na sua edição número 92, de 2 de Novembro de 2018, num raio-x feito aos ministros, que o concurso internacional para selecção de um quarto operador privado de telefonia móvel causaria dissabores ao ministro, devido o seu histórico de ausência de disrupção política. E hoje ficou provado.
Quando João Lourenço visitou França, Bélgica, Alemanha, e outros colossos da Europa, prometeu uma Angola transparente aos investidores externos, sem os vícios do passado. Contudo, tem um ministro desalinhado que comprometeu a diplomacia económica do Presidente.
Restam duas opções para José Carvalho da Rocha: engolir o sapo que se traduz em repetir o concurso e aprender a lição da transparência ou pedir a demissão, sim, por que foi o próprio José de Carvalho da Rocha que disse, na última terça-feira, 16, que impugnações ao concurso não seriam aceites.
Não espantemos se o ministro for eclipsado num próximo governo, devido, insisto, a falta de disrupção política com mudança de atitude e comportamento político. No índice de competitividade global, o sector mais fraco da avaliação angolana é o da inovação e acesso a tecnologia. E o ministro terá alguma culpa nisso.
*Director do Jornal Vanguarda