Segundo o porta-voz da Frente de Libertação do Estado de Cabinda - Forças Armadas de Cabinda (FLEC/FAC), Jean-Claude Nzita, o pedido é feito uma vez que Tshisekedi é segundo vice-presidente da União Africana (UA), depois de acusar as Forças Armadas Angolanas (FAA) de perseguição de cidadãos cabindeses na RDCongo.
"Apelamos também ao Alto Comissariado da ONU, através da Missão das Nações Unidas na RDCongo, para que proteja os refugiados cabindeses em território congolês", sublinhou Nzita, alegando que as perseguições das FAA já se prolongam desde meados de abril.
A 26 de abril, a imprensa congolesa começou a dar conta, através de denúncias da sociedade civil congolesa em Lukula, uma cidade e território congolês na província do Congo Central (oeste da RDC), de incursões militares das FAA que estarão, alegadamente, a perseguir militares do movimento independentista na região.
As autoridades de segurança provinciais de Lukula, que faz fronteira com o enclave angolano, confirmaram, entretanto, as informações veiculadas pela rádio congolesa.
A agência Lusa tem estado a tentar contactar o Ministério da Defesa de Angola desde então para confirmar a ação militar, mas até agora em vão.
Segundo as fontes da sociedade civil congolesa, os militares angolanos estão a entrar em território congolês pelas localidades de Makanga e Kimpese, zonas de floresta densa situadas junto à fronteira leste de Cabinda, tendo incendiado algumas cabanas na região.
Hoje, noutro comunicado também enviado à Lusa, assinado por Gabriel Nhemba Pirilampo Júnior, o movimento independentista volta a denunciar o que diz ser as "manobras falaciosas" das FAA, "que alegam pretenderem capturar os militares das FAC no território soberano" da RDCongo.
"O ministro da Defesa angolano, assim como os chefes das Forças Armadas Angolanas que ocupam Cabinda, sabem, e reconhecem, que os militares da FLEC/FAC apenas estão presentes e operam em Cabinda. As tropas angolanas alegando que tentam capturar militares das FAC na RDCongo estão a mentir sobre a real estratégia de Angola que pretende controlar e ocupar militarmente parte da RDCongo", lê-se na nota.
"A FLEC/FAC exige que Angola esclareça as suas reais intenções belicistas na RDCongo sem utilizar os militares da FLEC/FAC como álibi. As mentiras dos chefes das FAA revelam a incapacidade total de Angola de travar a progressão da FLEC/FAC na libertação total do território de Cabinda e na proteção da população de Cabinda", termina.
Desde janeiro que a FLEC/FAC, em sucessivos "comunicados de guerra", tem reivindicado a morte de soldados das FAA, cerca de uma dezena, entre eles três oficiais, segundo o movimento independentista, em emboscadas no interior de Cabinda.
A 28 de fevereiro, a FLEC/FAC anunciou a retoma, "de forma intensiva, da luta armada em Cabinda" e alertou que o enclave angolano é "um território em estado de guerra" e que os estrangeiros "devem tomar as medidas de segurança adequadas".
Num "comunicado de guerra", enviado então à agência Lusa, a FLEC/FAC argumentou que "nunca quis a guerra e sempre abriu as portas à paz" e que "todas as oportunidades" para a construir foram "esmagadas no sangue por Angola e os seus Presidentes Agostinho Neto, José Eduardo dos Santos e João Lourenço".
A FLEC, através do seu "braço armado", as FAC, luta pela independência do território alegando que o enclave era um protetorado português, tal como ficou estabelecido no Tratado de Simulambuco, assinado em 1885, e não parte integrante do território angolano.
Criada em 1963, a organização independentista dividiu-se e multiplicou-se em diferentes fações, efémeras, com a FLEC/FAC a manter-se como o único movimento que alega manter uma "resistência armada" contra a administração de Luanda.