A acusação foi feita por Pedro Sebastião, ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente das República, numa conferência de imprensa, em Luanda, em que responsabilizou a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) pelas complicações dos últimos dias, resultantes da entrega dos restos mortais de Savimbi.
Pedro Sebastião, que coordena a Comissão Multissetorial para o Processo de Exumação, Transladação e Inumação dos Restos Mortais de Jonas Savimbi, criada em 2018 pelo Presidente angolano, João Lourenço, voltou a garantir que a UNITA sabia que o corpo de Savimbi seguiria do Luena (província do Moxico), onde esteve sepultado 17 anos - foi morto em combate em fevereiro de 2002 -, para o Andulo, norte da província do Bié, sem passar pelo Cuíto, a capital provincial onde a família, dirigentes do partido e jornalistas aguardaram, terça-feira, pela entrega dos restos mortais.
"A Comissão [multissetorial] reunia com regularidade e estivemos reunidos na véspera para ultimar os detalhes. Todos os procedimentos foram tratados. Os procedimentos no Luena, no Bié. Quer a família quer o partido estavam em sintonia. O que se passou deixou-nos meio surpreendidos, o que nos leva a pensar que talvez seja melhor o diálogo ser com a família, porque a família tem os laços biológicos, afetivos, e está profundamente interessada em que o seu ente querido seja inumado com a serenidade que merece", defendeu,
"Enquanto que outros componentes, no caso concreto da UNITA, ao que parece, persegue objetivos políticos, e atrapalha tudo aquilo que se vai decidindo em termos de comissão. (...) Enquanto o contacto foi apenas com a família, começamos a encontrar alguns procedimentos que, de certa maneira, beliscavam essa relação, que culminou com o que assistimos ontem [terça-feira]. São elementos um pouco estranhos à vontade expressa da família, com quem temos dialogado sem sobressaltos", acrescentou.
Para Pedro Sebastião, "não há qualquer interesse" do Governo em manter-se na posse dos restos mortais de Savimbi, que se encontram numa unidade militar no Andulo "que não está vocacionada" para o efeito, pelo que, se o processo continuar a demorar, "sem que se justifique", a urna terá "outro destino", que não especificou.
"Os restos mortais estão neste momento numa unidade militar, que não está vocacionada para isso. Num dado momento, os restos mortais vão ter de sair e ter outro destino. Foi nessa perspetiva que abordamos. O Governo cumpriu as formalidades legais dará destino se houver demora que se justifique", avisou.
Questionado sobre se o executivo estará representado na cerimónia de inumação, marcada para 01 de junho em Lopitanga (província do Bié), onde Savimbi afirmou, em vida, desejar ser sepultado, Pedro Sebastião lembrou que o Presidente angolano, João Lourenço, o indigitou como coordenador daquele comissão, pelo que assumirá o seu papel "desde que se encontre da outra parte [UNITA] uma postura adequada ao dossiê e que não estejamos a perder tempo com idas e vindas desnecessárias".
"Acredito que seja a última conferência de imprensa. Acredito piamente que as coisas estejam perfeitamente esclarecidas. Precisamos apenas de uma postura adequada ao dossiê. Quem está mais interessado no desfecho de tudo isso é a família biológica, que está a passar por momentos alheios à sua vontade, por capricho de outras pessoas que não o Governo", afirmou.
Pedro Sebastião lembrou, também, que Savimbi, enquanto cidadão, não terá um funeral de Estado.
As exéquias fúnebres de Jonas Savimbi, garantiu hoje a UNITA, vão decorrer no próximo sábado no cemitério de Lopitanga, onde estão sepultados os seus pais.
Nascido na localidade de Munhango, na província do Bié, a 03 de agosto de 1934, Jonas Savimbi morreu, em combate, no Lucusse, província do Moxico, a 22 de fevereiro de 2002, tendo sido sepultado, por decisão governamental, no cemitério municipal do Luena.