“Aatitude dos EUA face a Angola sempre foi ambivalente, e não será agora que irá enveredar por um caminho de confronto, quando Angola se tornou um aliado importante, por dois motivos muito reais”, começa por referir a Cedesa numa análise com o título: “Eleições angolanas de 2022 e os Estados Unidos da América”.
Segundo aquele grupo de académicos, Angola tornou-se um importante aliado dos EUA, porque, sobretudo com a liderança de João Lourenço, o país “tem desempenhado um papel de pacificação na sua zona de influência”.
“Relembre-se que Angola ajudou a uma transmissão pacífica e eleitoral na República Democrática do Congo (RDC), tenta estabelecer alguma tranquilidade entre o triângulo RDC, Uganda e Ruanda, além de ter contribuído decisivamente para a recente paz na República Centro-Africana (RCA)”, referem no documento.
Os académicos da Cedesa recordam também que, na RCA, “o Presidente Touadéra destacou o papel fulcral desempenhado pelo Estado angolano na obtenção da paz”.
Assim, “Angola é um aliado da paz dos EUA em África e, obviamente, os americanos não vão desleixar o apoio e colaboração diplomática e militar de Angola para a tranquilidade africana”, afirmam.
Ao mesmo tempo, “é um forte baluarte contra qualquer penetração do terrorismo islâmico”, acrescentam.
Mas para a Cedesa, há ainda um outro motivo pelo qual o país se tornou aliado dos EUA e que tem a ver também com a sua estratégia de política externa face à China.
“É nítido que Angola segue atualmente uma nova política externa, pretendendo ‘descolar-se’ da excessiva dependência da China”, salienta a análise.
“Ora, atendendo à sua experiência com a China de quem foi pioneira da intervenção em África e da tentativa atual de uma política estrangeira mais ocidental, Angola constitui uma plataforma experimental por excelência para a política dos EUA face à China, onde se testarão as verdadeiras implicações dessa política e até onde irá o empenho americano para contrabalançar a China”, consideram os analistas no documento a que a Lusa teve acesso.
Por isso, concluem que “um falhanço americano com Angola será um falhanço global da sua aproximação estratégica à China”.
“Aqui, tal como na Guerra Fria em relação à União Soviética, se vai medir a realidade da ação americana relativamente à China”, sustentam.
Para a Cedesa, o foco da estratégia dos EUA “foi colocado na China e no seu controlo e mais geralmente na Ásia”.
“A concorrência estratégica” é o quadro através do qual os Estados Unidos veem a sua relação com a República Popular da China, referem no documento.
“Os Estados Unidos abordarão a sua relação com a RPC a partir de uma posição de força”, na qual trabalharão em estreita colaboração com os seus aliados e parceiros para defender os seus interesses e valores, recordam.
Neste contexto, para a Cedesa, não há dúvidas sobre o que os EUA desejam de África: que “não lhes dê chatices e propicie alguns lucros económicos”.
No seguimento dessa estratégia, os EUA têm entregado uma boa parte da luta antiterrorista a França e contam que os países africanos garantam a estabilidade local, prosseguindo fortes alianças com alguns deles, indicam.
E só se o interesse e a segurança nacionais norte-americanas forem afetadas pelo terrorismo islâmico, “os Estados Unidos intervirão fortemente”.
“Não existe qualquer apetência dos EUA em se colocarem por dentro de qualquer imbróglio em África”, lê-se no documento.
“Tudo ponderado não parece que a Administração Biden [do Presidente dos EUA] embarque em qualquer hostilização ou mudança em relação ao governo de João Lourenço, pois isso não corresponde aos interesses americanos face à África e mesmo em relação à China”, concluem.
Pelo que, “todos os rumores noutro sentido, devem ser vistos como parte da luta interna angolana e não qualquer posicionamento musculado americano”, considera.
Os rumores a que a Cedesa se refere são os de “um possível interesse acrescido dos Estados Unidos nas eleições angolanas”, que poderiam levar a que a potência ocidental exigisse que o ato eleitoral no país africano tivesse observadores internacionais imparciais, que garantissem a verdade eleitoral. Além da “ameaça de possíveis sanções ao governo de João Lourenço se não acatasse essas recomendações americanas”.
“Em concreto, anuncia-se que a Administração Biden tem estado a ameaçar com a aplicação de sanções financeiras, restrições de vistos e proibições de viagens contra governantes que prejudiquem as eleições nos seus países. Daí extrapola-se que estará a fazer o mesmo em relação a Angola”, menciona ainda a Cedesa na análise.