Em conferência de imprensa, o grupo representante de membros da sociedade civil angolana afirmou “a inexistência de condições legítimas e credíveis, que garantam o processo eleitoral livre, justo e transparente”.
Laurinda Gouveia, ativista angolana que fez parte do conhecido processo 15+2, em 2015, leu o manifesto, apontando como uma das irregularidades a contratação da empresa espanhola Indra, fornecedora do material informático das eleições gerais angolanas, propondo a anulação do concurso público da sua contratação e retirada do processo eleitoral, além dos “vícios da atual Lei Orgânica das Eleições, que anula o escrutínio municipal e a não fixação das atas síntese nas assembleias de voto”.
Entre outras reclamações, os membros representantes da sociedade civil angolana apontam o tratamento desigual dos partidos pelos órgãos de comunicação social públicos e a existência de falecidos nos cadernos eleitorais.
Nesse sentido, “os membros da sociedade civil propõem a não realização das eleições gerais no dia e mês marcado pelo Presidente da República, isto é, no dia 24 de agosto de 2022”.
Por sua vez, o ativista Adolfo Campos, do Movimento Revolucionário Angolano, afirmou que “as eleições não estão a ser transparentes para os angolanos”.
“E nós não precisamos de ter mais cinco anos de sofrimento, nós como sociedade civil estamos aqui presentes para pedirmos que as eleições gerais de 2022 sejam anuladas e que se reafirme uma nova metodologia de trabalho ou de operação das eleições gerais de 2022, porque a empresa Indra não nos dá confiança e o MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola, partido no poder] envolveu-se muito nesse registo eleitoral”, disse Adolfo Campos.
As críticas foram igualmente dirigidas aos partidos políticos na oposição, que juntamente com o partido no poder “insistem em fazer eleições não justas”.
“Nós entendemos que todos os partidos políticos que forem concorrer nestas eleições gerais de 2022 estão a ser coniventes com o sofrimento do povo angolano e nós não vamos permitir isso, como jovens. Precisamos de uma Angola justa e transparente, estas eleições têm que ser justas e transparentes”, reafirmou.
Já Osvaldo Caholo, ativista que em 2015 foi também preso e julgado no processo conhecido como 15+2, alertou que “a paz e estabilidade não dependem dos partidos políticos, muito menos dependem daquela sociedade civil amordaçada, que, na verdade está entre os partidos políticos, são cooptados e fazem parte de acordos”.
“Vamos assistir aqui, pela primeira vez, ao surgimento de uma sociedade civil independente, que não vão a reboque de nenhum partido. Esta sociedade civil terá capacidade de definir o teatro operacional angolano nos últimos tempos”, referiu.
“Estou a dizer que todas as forças vivas, todas as sensibilidades, incluindo esta sociedade civil, têm a suma importância no papel da paz e da estabilidade, porque os políticos vão às eleições e nós com certeza vamos impugnar este ato eleitoral”, acrescentou.
O grupo anunciou a realização de uma marcha no dia 17 de agosto, em resposta ao pedido de impugnação que será submetido ao Tribunal Constitucional na próxima terça-feira, manifestando-se confiante numa resposta positiva à sua ação, caso contrário vão recorrer ao direito das manifestações.
Laurinda Gouveia deixou críticas aos partidos políticos da oposição: “Mesmo vendo a situação em que o povo está, insistem em avançar, não conseguem tomar uma posição coerente em benefício do povo angolano”.
“Nós estamos cansados de estar a reboque dos partidos políticos, não queremos ser considerados massa, somos pessoas, somos povo, somos nós que temos que legitimar os nossos governantes”, frisou.
Questionados por que razão vão agora submeter este pedido de impugnação a poucos dias da realização das eleições, Adolfo Campos respondeu que os angolanos são um povo que entende “esperar”.
“Esperamos! As leis foram feitas injustamente, sabemos que os partidos da oposição não conseguiram contrapor as mesmas leis, porque o partido no poder tem a maioria absoluta (…). Esperámos que os partidos políticos pudessem resolver o problema no âmbito político, mas vimos que não houve consenso e uma congregação acerca das mesmas leis e isto levou-nos a entender que os partidos políticos pudessem contrapor de uma outra maneira, não ir mesmo às eleições, mas vimos que não é isso. A oposição mesmo mencionando a fraude todos os dias estão a fazer a campanha eleitoral e isso levou-nos a ter uma posição como sociedade civil, a não aceitar as eleições de 2022”, afirmou.
A conferência de imprensa decorreu, esta manhã, pelas 10:00 no bairro do Cazenga, onde os jovens bloquearam uma rua com mesas para falarem aos jornalistas.
O impedimento do trânsito levou, já no final da atividade, à intervenção da polícia que questionou os jovens sobre os motivos do bloqueio, sem outras consequências.