"Ninguém me pode dizer que o MPLA ganhou, é impossível, nós fomos recebidos em todo o lado por multidões, milhares e milhares de pessoas, com ambientes galvanizantes, de tal forma que cheguei a virar-me para o Adalberto [Costa Júnior, presidente da UNITA] a dizer-lhe para se preparar porque ia ser Presidente da República, tal era a convicção na vitória", explicou.
"Foram eleições que não foram justas nem transparentes, mas foram livres porque as pessoas foram votar e não foram coagidas a votar ou não votar", disse o deputado e membro da Frente Patriótica Unida, coligação que englobou o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e o Bloco Democrático, à margem da conferência “Pluralismo, Democratização e Eleições em Angola e Moçambique”, que decorre hoje em Lisboa.
Em declarações à Lusa e RDP África, o também professor universitário disse que mais importante que o processo eleitoral no dia da votação e seguintes, é o que acontece antes: "O que acontece antes é que é importante, há um processo de intoxicação, de manipulação, com o Estado a utilizar os meios ao seu dispor para condicionar o sentido de voto dos cidadãos, e sem ultrapassar isto os resultados eleitorais nunca serão justos", afirmou.
Justino de Andrade foi um dos líderes da coligação que concorreu contra o MPLA nas eleições de agosto, que deu a vitória ao partido no poder, a mais magra desde a independência.
Questionado sobre o que deve então mudar para as eleições serem justas, Justino de Andrade disse que é o funcionamento das instituições que tem de ser alterado para garantir imparcialidade.
"Toda a lógica de funcionamento do Estado tem de mudar, senão os resultados vão sempre favorecer o partido no poder; a comunicação social é horrível, tóxica, manipula e nota-se claramente que são pessoas que estão a prestar um serviço ao partido no poder; a CNE [Comissão Nacional de Eleições] não é de confiança, é do domínio exclusivo do partido do poder, e quem diz a CNE, diz o Tribunal Constitucional, que manipulam tudo, e por isso os resultados são sempre favoráveis a quem está no poder", argumentou.
Repetindo as críticas feitas antes pelo ativista Luaty Beirão sobre o papel dos observadores internacionais, Justino de Andrade disse que muitos fazem apenas turismo eleitoral.
"Os observadores, de uma forma geral, vão fazer turismo eleitoral, vão, conversam com os partidos, com as pessoas, vão tomar banho à praia e depois pronto, vêm e dizem que as eleições foram livres, justas e transparentes", lamentou.
Os eleitores votam, "mas depois o seu voto é desviado, é deturpado, e a lei não permite confrontar os dados obtidos pelos partidos com os dados apresentados pela CNE, o que é uma forma de evitar que se desmascare o processo de manipulação, por isso se diz que há deputados da CNE, e depois há os deputados do povo", concluiu, numa referência aos deputados do MPLA e aos deputados da oposição.
As eleições gerais de Angola realizadas em agosto deste ano ficaram marcadas por contestações dos partidos concorrentes, que alegaram falta de transparência em todo o processo eleitoral, que reconduziu João Lourenço, líder do MPLA, a Presidente da República, num segundo mandato.
O Tribunal Constitucional proclamou o MPLA e o seu candidato, João Lourenço, como vencedores com 51,17% dos votos, seguido da UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola) com 43,95%, tendo chumbado o recurso de contencioso eleitoral da UNITA.
Com estes resultados, o MPLA elegeu 124 deputados e a UNITA 90 deputados, quase o dobro das eleições de 2017.