Em declarações aos jornalistas, à margem da apresentação pública da Fundação Jonas Malheiro Savimbi, o antigo dirigente disse que Savimbi foi “uma personalidade que trabalhou imenso para o país” e que conta ainda com o apreço de um número significativo de angolanos, mas há também “muita gente” que entende que “não se devia falar mais” do fundador do maior partido da oposição angolana, que travou uma longa guerra de três décadas contra o governo angolano e foi morto em 2002.
“Ultimamente encontro-me com cidadãos que me dizem: nós matámos quem nos queria salvar e ficámos com os que nos querem matar. No MPLA [partido do poder] há os que reconhecem o papel de Jonas Savimbi, mas há os que não reconhecem, se calhar até na UNITA, se calhar nos outros partidos, estou a falar no geral”, disse depois de ter dito no seu discurso que “muitos quiseram e querem ainda apagar [o papel de Savimbi] e outros quiseram e querem silenciar, ou ignorar”.
Questionado sobre as ausências de dirigentes da UNITA na apresentação pública da Fundação, à qual pertence com o estatuto de presidente do conselho de curadores, salientou que foram enviados convites “para toda a gente”, incluindo membros do governo e da direção da UNITA e de outros partidos, cabendo às pessoas que recebem o convite decidir.
Samakuva, que sucedeu a Jonas Savimbi na liderança da UNITA, durante 16 anos, sendo substituído pelo atual presidente, Adalberto Costa Júnior, admitiu também que foram colocados entraves à criação da fundação, que demorou três anos a ser legalizada, em vez dos 180 dias que a lei estipula, tendo sido exigidas várias certidões nos notários.
“No fundo, o que é que há: alguns setores que achavam que isto não deveria ser assim”, vincou o político, admitindo que a intervenção do Presidente angolano, João Lourenço, foi importante para desbloquear o processo.
Sobre o financiamento da fundação, não revelou detalhes, afirmando que o objetivo é trabalhar no sentido do reconhecimento como entidade de utilidade pública.
“Mas antes de mais vamos procurar provar que somos um fundação séria e que trabalha para o bem do povo”, realçou.
A Fundação Jonas Malheiro Savimbi tem estado envolvida em polémica desde que foi anunciada a sua legalização depois do líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior, falar em interferências e instrumentalização, embora considere legítima a vontade dos familiares criarem esta entidade.
Isaías Samakuva, por seu lado, negou qualquer intenção de criar um novo partido e afirmou ter informado Adalberto Costa Júnior sobre as suas novas funções na direção da fundação, relançando também que a sua proximidade com o Presidente, João Lourenço, resulta de laços de amizade antigos.
Os mais de dez filhos de Savimbi presentes, e que se fotografaram juntos no final da cerimónia, animada por coros de igrejas, declamação de poemas e miniteatros, insistiram que a fundação surgiu da vontade dos familiares e não tem fins políticos.