Adalberto Costa Júnior falava na província da Huíla, no âmbito das jornadas nas comunidades da UNITA, dando a sua visão sobre o discurso sobre o Estado da Nação que marca o início do ano parlamentar, a 15 de outubro, e antecede a celebração dos 50 anos de independência de Angola.
O político convidou João Lourenço “a abster-se de um discurso de promessas” e de tentar mostrar um país diferente do que os angolanos enfrentam diariamente, caracterizado pela fome e pela pobreza.
“Que haja coragem e faça uma caracterização real do país que contenha os eixos do combate à fome e à pobreza e que mostre que o nosso país, Angola, não pertence ao MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola, no poder desde a independência] pertence a todos os angolanos e não deve ser refém de um partido político”, instou.
Adalberto Costa Júnior considerou que o festejo dos 50 anos de indepedência não deve resultar num esbanjar de dinheiros públicos para mostrar um país fictício, criticando o Governo angolano por manter o país refém dos interesses do MPLA, e impedindo melhorias.
Aludiu às “centenas de milhões de dólares” gastos em conferências para esconder a censura que se pratica na comunicação social e salientou que a independência foi conquistada com as lutas de todos os movimentos de libertação e da sociedade angolana.
Criticando os governantes que “privilegiam operações de charme para distorcer a imagem real do país”, o presidente da UNITA salientou que Angola permanece atolada no círculo vicioso da pobreza, marcada pelo “desemprego assustador” e declínio da democracia e direitos humanos, que tem levado a um enorme êxodo de angolanos em busca de melhores condições de vida.
Lamentou ainda os grupos de pessoas que se amontoam junto aos caixotes de lixo, “como nem nos tempos do conflito militar", onde se encontram famílias e “infelizmente muitas crianças”, que são “a maioria dos mendigos de Angola”.
Adalberto Costa Júnior mostrou preocupação face à ausência do Estado social e pobreza galopante, sublinhando que 50% dos angolanos (18 milhões de pessoas) vivem com menos de dois dólares por dia e citou relatórios internacionais que dão conta do agravamento da pobreza, má nutrição e falta de condições de saúde, um “quadro dramático” que o Governo quer resolver “com uma tesoura, partindo o país aos retalhos criando novas províncias e municípios”.
O líder da UNITA pronunciou-se ainda sobre os erros das políticas económicas que “tem aumentado problemas sistémicos e conjunturais” de Angola e a corrupção, criticando os ajustes diretos, o uso de recursos do Estado para favorecer o partido no poder e a “judicialização” da política.
“O partido-Estado colocou Angola e os angolanos num poço sem fundo do qual será dificil sair”, frisou, garantindo que a UNITA tem “vocação democrática e está pronta para governar democraticamente” o país.
Ainda sobre os “tempos difíceis e conturbados” que Angola vive, o líder da UNITA alertou para a necessidade de um alinhamento prudente com as potências mundiais, considerando que a interação com estes gigantes deve servir para potenciar o desenvolvimento, mas sobretudo reforçar as instituições.
“Não há almoços grátis”, avisou o dirigente da oposição, afirmando que não há interações inocentes ou idílicas, dando como exemplo os americanos “que se viram para Angola” devido ao interesse no transporte de minerais através do Corredor do Lobito.
“Só os angolanos poderão ajudar os angolanos”, destacou Adalberto Costa Júnior, apelando a “reformas sérias” e que “as forças patrióticas se juntem num esforço comum”.