Samakuva, que dirigiu a União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA, maior partido na oposição) durante 16 anos, foi um dos oradores do painel “a economia angolana a visão dos nacionalistas: um olhar sobre o passado, presente e o futuro” do Angola Economic Fórum (AEF2025), que se iniciou hoje em Luanda.
Para o político, que interveio no encontro via remota, o passado da economia colonial de Angola “foi estruturada para alimentar e desenvolver Portugal e atrasar e subdesenvolver Angola e os seus povos, que foram mantidos sob diversas formas inferiores, divididos e incapazes de controlar as suas próprias riquezas”.
“Precisamos uma economia fundada no patriotismo, na solidariedade, na descentralização e na ética republicana, a que devolver o Estado aos seus cidadãos. Precisamos de mudanças culturais e estruturais profundas, precisamos de despartidarizar as mentes, precisamos de colocar Angola a frente dos partidos”, defendeu.
Com a independência de Angola (alcançada em 11 de novembro de 1975), prosseguiu, surgiu a esperança de que Angola, governada pelos angolanos, “iria finalmente trilhar o caminho do desenvolvimento inclusivo e do progresso social, no entanto, o percurso tem sido dolorosamente tortuoso”.
“A longa guerra civil devastou as infraestruturas que existiam, fragmentou a coesão social e desviou recursos indispensáveis ao crescimento económico”, apontou. Para Isaías Samakuva, apesar de alguns indicadores positivos, principalmente alavancados pela exploração petrolífera e mineral, a economia angolana continua “marcada por grandes assimetrias”.
No seu entender, a “dependência excessiva” do petróleo tornou o país vulnerável aos choques externos inibindo a diversificação económica, a corrupção, a má gestão dos fundos públicos, a ausência de políticas eficazes para o desenvolvimento do capital humano e a centralização do poder económico “criaram um ambiente onde as promessas da independência tardaram a materializar-se para a maioria dos angolanos”.
“Em certo sentido a economia regrediu”, notou, realçando que antes da chegada dos portugueses a economia do Reino do Congo e seus vizinhos era bastante diversificada: “Agora 50 anos depois da descolonização portuguesa ainda não conseguimos diversificar a economia”.
Para “corrigir essa falha coletiva”, referiu, Angola deve abraçar um diálogo estruturado e objetivo, profundo e maduro, diálogo de patriotas “construtores do futuro e não de incriminações ou de oportunistas que vivem do ódio e das visões do passado”.
O diplomata e nacionalista angolano Ismael Martins, também um dos oradores do painel, enalteceu, por sua vez, a realização do AEF2025, considerando que o encontro, que decorre até sexta-feira em Luanda, deve produzir consensos que sirvam de ideias para Angola marchar.
Ismael Martins, que entre 1976 e 1977 foi governador do Banco Nacional de Angola, lamentou a atual dívida interna e externa do país, bem como os “desvios de fundos” que, no seu entender, constitui um “problema” que deve continuar a ser combatido com “coragem e determinação” para o bem da economia angolana.
E o economista e nacionalista angolano Justino Pinto de Andrade defendeu, na ocasião, a alteração do atual modelo económico angolano que, conforme disse, está desnacionalizada e a ser comandada por empresários estrangeiros, facto que “periga as futuras gerações do país”.