A possibilidade foi levantada hoje no encontro promovido pela comissão sindical daquela empresa estatal, em Luanda, que contou com a presença de mais de 50 trabalhadores e com o diretor-geral, após falhadas as promessas anteriores, de liquidação dos salários.
"Porque a OIT é uma organização que vela pelos interesses dos trabalhadores a nível do mundo e julgamos que ela poderá intervir para resolver a nossa situação, que se arrasta há 54 meses, sem qualquer resposta das autoridades", disse hoje à imprensa o 1.º secretário da comissão sindical da empresa, Mateus Muanza Alberto.
Falta de dinheiro para se alimentarem, dificuldades em suportar as despesas com a saúde ou do ensino dos filhos nortearam as preocupações dos cerca de 400 trabalhadores nesta condição, conforme explicou, no final, Mateus Muanza Alberto.
"São muitas preocupações. Até hoje estamos aflitos, mas aprofundando a situação nós não vamos parar por aqui e nas celebrações do 1.º de Maio, Dia Internacional do Trabalhador, também vamos apresentar a nossa dramática situação", afirmou.
"Não é normal um chefe de família conseguir viver. Aliás, estamos a sobreviver, por isso mesmo, independentemente daquilo que ouvimos continuamos na mesma situação", disse.
De acordo com o sindicalista daquela empresa pública, a situação por que passam foi já reportada ao Presidente da República, numa carta enviada em março, bem como ao gabinete do ministro da Construção e Obras Públicas, mas sem qualquer resposta.
Em outubro de 2017, o novo ministro da Construção e Obras Públicas, Manuel Tavares de Almeida, visitou as instalações da Empresa Nacional de Pontes de Angola, em Luanda, tendo assumido analisar a situação, apelando por isso o diálogo entre sindicato e administração.
"Temos algumas perspetivas no nosso plano orçamental e isso pode ajudar a resolver já os problemas candentes e equacionar o problema dos atrasados", disse na ocasião o governante, tendo ainda assegurado que seriam elaborados programas "para alavancar" a empresa.
Promessas que, segundo Mateus Muanza Alberto, não se concretizaram na prática: "De facto foram muitas promessas, mas continuamos na mesma situação. Tanto que ainda ontem voltamos a solicitar uma audiência com o senhor ministro, para abordar a situação".
"Vamos propor muitas situações internas e externas, porque apesar de a direção não conseguir aprofundar as questões, esse silêncio nos afeta. Há até solicitações para a empresa adjudicar obras, mas a direção tarda em elaborar contratos", adiantou.
O diretor-geral da empresa, José Henriques, referiu que no quadro de uma parceria com um consórcio, para alavancar a empresa, 88 trabalhadores deverão ser suspensos, situação que preocupa a comissão sindical.
"Se a empresa deve aos trabalhadores, esta suspensão vai-se basear em quê? Ao menos que paguem os salários em atraso, indemnizem. Porque não acreditamos que os trabalhadores suspensos possam ser reenquadrados", argumentou.
As dívidas para com os trabalhadores datam desde 2011, situação que deixa Maria Alexandrina, há 20 anos na empresa, "triste e agastada", sem forma de sustentar os sete filhos.
"Por isso estou a pedir às entidades superiores que nos ajudem, que façam qualquer coisa. Os nossos filhos estão fora do sistema escolar, como é que a gente vai acabar", questionou.