Alunos do ensino primário regressam às aulas presenciais em Angola, quase um ano depois

Post by: 10 February, 2021

Alunos do ensino primário em Angola regressaram hoje às escolas, quase um ano depois de as aulas presenciais terem sido suspensas devido à covid-19, com alguns pais ainda receosos e outros confiantes no cumprimento das medidas de segurança.

Hoje de manhã, verificava-se nas ruas de Luanda um afluxo considerável de alunos, constatou a Lusa numa ronda por escolas da capital angolana.

Na escola 1206, no município da Ingombota, no centro de Luanda, várias crianças regressaram à escola hoje, pelas 7:30, acompanhadas dos seus encarregados de educação, alguns ainda receosos, a verificarem as condições de biossegurança no local, ao contrário das crianças.

No recinto escolar, à entrada, foram instalados três pontos para a lavagem das mãos com água e sabão, enquanto os professores, com entrada exclusiva, podiam usar um dispositivo para a distribuição de álcool em gel.

À porta da escola, o diretor da instituição, Filipe Mesquita, ia prestando esclarecimentos aos encarregados de educação. Alguns deixaram as suas crianças nas aulas, mas outros preferiram aguardar pelas duas horas de duração das mesmas.

Em declarações à agência Lusa, Filipe Mesquita considerou surpreendente o número de alunos que hoje regressou às aulas presenciais, depois do levantamento das restrições pelo Governo, no âmbito do alívio das medidas de restrição para conter a pandemia da covid-19.

"Para hoje, primeiro dia, surpreendentemente, temos uma média de 45% de fluxo de alunos, logo no primeiro turno. Podemos esperar, para o segundo turno, que vai das 10:00 em diante e depois no período da tarde, (...) talvez um fluxo com mais alunos ainda", disse.

Segundo Filipe Mesquita, a escola já vinha a preparar-se há bastante tempo e, na verdade, nunca parou o seu sistema de ensino, estando desde outubro a trabalhar com os alunos à distância.

"Mesmo sem as aulas presenciais fomos fazendo o acompanhamento, por isso é que estamos a ter esse afluxo e como já iniciámos as classes de exame, então as medidas de segurança estão a 80%", frisou.

Além da confiança depositada por pais e encarregados de educação na direção da escola, a redução, nos últimos dias, do número de casos da covid-19 está na base do regresso tranquilo dos alunos, considerou Filipe Mesquita.

Divididos em dois grupos, com até 25 alunos em cada turma, devidamente distanciados, os alunos iniciaram os primeiros 20 minutos das aulas com uma sensibilização sobre a questão da doença, sendo esta semana dedicada à revisão das tarefas.

"O processo de ensino não parou, não é um início de aulas, é um reiniciar. O segundo trimestre começou no dia 4 de janeiro (...) e como essa altura é de provas, para alguns alunos, que já estão na classe de exames, como não tinham aulas presenciais, estão a ter uma revisão por causa de tudo aquilo que foi feito à distância", explicou.

Ivone Ferreira levou o seu filho, aluno da primeira classe, à escola para constatar as condições e ficou agradada por encontrar água para a lavagem das mãos e o medidor de temperatura à entrada, considerando que as condições estão criadas.

Durante quase um ano em casa, Ivone Ferreira disse que o filho cumpriu sempre as tarefas dadas pela escola.

"Vinha sempre levantar as tarefas para ele e a professora esteve sempre a dar incentivo", disse.

Por sua vez, Demércio Chiwaiangue disse que foi com satisfação, mas também ligeira preocupação que levou à filha à escola e, por isso, fez questão de acompanhar presencialmente o regresso às aulas.

"Estou satisfeito porque as medidas de biossegurança estão salvaguardadas. Houve todo um exercício por parte da direção da escola, todo aquele esforço possível e imaginário para criar todas as condições, para que o início das aulas fosse retomado da melhor forma possível", referiu.

Segundo Demércio Chiwaiangue, os educandos estavam preocupados e ansiosos com o retorno às aulas e o reencontro com colegas e professores foi importante.

"No início, eu estava mesmo preocupado, mas temos vindo a acompanhar pelos órgãos de comunicação o baixar daquilo que é a estatística dos casos de covid-19, isso deixou-nos bastantes confortáveis. Aqui na escola constatamos também que as condições estão criadas e isso nos alegra enquanto encarregados", salientou.

Enquanto em casa, Demércio Chiwaiangue criou condições mínimas para o acompanhamento escolar, como uma explicadora e o contacto direto com a escola.

"De vir cá buscar as tarefas e tudo o resto e não notámos nenhuma dificuldade. As tarefas estão salvaguardadas, ela está satisfeita e a nós [cabe] agradecer a iniciativa do retorno às aulas porque não víamos outra saída, preocupava-nos mesmo", disse.

Feliz ficou igualmente a professora, Suzete Piedade, pelo reencontro com os seus "filhos".

"Para mim foi uma grande alegria, muita alegria mesmo, era o que eu mais queria, ver os meus filhos, apesar que estou com eles pelo segundo ano, começámos a iniciação, e foi uma alegria de ver os meus filhos, havia vezes que pais ligavam para mim para os miúdos falarem comigo de tanta saudade que eles tinham da professora", disse.

Glória da Silva Madaleno, aluna da terceira classe, manifestou a sua satisfação por retornar à escola, porque estava com saudades da professora e colegas.

"Apesar da pandemia, de não podermos nos abraçar, mas eu já me conforto em poder vê-los", referiu.

Questionada se em algum momento teve medo de regressar à escola, respondeu que não, porque "Deus está com alunos e professores".

O país regista, desde o início da pandemia, um total de 20.163 casos de infeção pelo coronavírus SARS-CoV-2, incluindo 478 óbitos associados à covid-19.

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