“Cabeça de pobre é nossa mesmo, estamos mal. Você não tem emprego para os próprios filhos e filhas, mas fica a chamar assessores de todas as partes. Quando a sua cabeça só tem 140 kilobytes, não vale a pena ser dirigente, porque vais precisar de assessores que tenham, pelo menos, um giga ou dois, e você próprio não vai entender nada da sua assessoria. É por isso que estamos entregues verdadeiramente à desgraça”, declarou o bispo católico.
O áudio, que não identifica o local nem as circunstâncias em que foram feitas tais declarações, analisa o tipo de mentalidade governativa, recorrendo-se de várias metáforas, todas elas à volta da pobreza mental, para chamar a atenção sobre a necessidade de um posicionamento que faça toda a diferença, sobretudo, por parte de quem tem a missão de governar.
A alegoria sobre a ‘cabeça de pobre’ ou a pobreza mental é explicada por Dom Belmiro Chissengueti como sendo de que reveste a atitude de governantes que, “para visitar um simples lugar, não importa quem seja, todos os membros do executivo têm de ir ao aeroporto, voltar, gastar combustível, gastar tempo para entrar e sair”. “Vai sozinho. Guarda-costas e motoristas chegam e poupa dinheiro”, aconselha o bispo da Cabinda no áudio.
O porta-voz aponta como um dos grandes exemplos de pobreza mental as delegações angolanas que participam em eventos internacionais, considerando-as como “as que mais gastam”, tudo “porque têm vergonha de assumir que são pobres” e porque “fingem que são ricos, já desde os fatos que usam, os sapatos que ostentam, tudo. Quando o sapato é mesmo para pisar no chão e chegar ao destino”.
Em sentido contrário, o bispo de Cabinda aponta o exemplo de os outros dirigentes no mundo que “pegam num avião comercial, pagam mais barato, vão para os hotéis mais simples e são ouvidos os seus discursos”.
“Nós somos cabeças de pobres, que somos capazes de gastar milhões numa simples viagem onde só uma pessoa vai discursar, que até poderia mandar o discurso numa live e assim poupar não sei quanto… e assim poupar dinheiro ao país”, afirma, admitindo ser esta a “nossa mentalidade de pobre”.
O bispo católico não tem dúvidas de que “isso levará tempo” a ser ultrapassado, porém, recomenda que nos demarquemos dessa “mentalidade de pobre, que se esquece da sua própria terra e investe nas mãos ou nas terras daqueles que já têm”.
Para Dom Belmiro Chissengueti, situações como as que afirma ser apanágio governativo dão lugar “àquela parábola dos talentos, onde quem tinha muito foi-lhe acrescentado, e àquele que tinha um só enterrado, até o que tinha, lhe foi retirado e dado aos outros”.
“Este que tinha um só, eu acho que era preto, infelizmente. Então, vamos acordar, para não continuarmos nesse sonho prolongado. Cuidemos dos pobres, sim, é nossa missão, mas não nos habituemos à pobreza mental e antropológica”, conclui o bispo católico no áudio que viralizou nas redes sociais.