IURD reconhecida pelo Estado angolano pede suspensão de programas para acabar com ilegalidade

Post by: 16 June, 2022

A direção da IURD Angola reconhecida pelo Estado angolano afirmou hoje ter pedido a suspensão do canal FéTv para “pôr cobro à ilegalidade”, pois os programas estavam a ser emitidos em nome desta associação religiosa sem autorização do representante legal.

A IURD em Angola está atualmente dividida em duas alas: a de origem brasileira, liderada agora pelos angolanos Alberto Segunda (líder espiritual) e António Ferraz (presidente da direção), e os reformistas dirigidos por Bizerra Luís e reconhecidos pelo Instituto Nacional para os Assuntos Religiosos, reclamando ambas ser as legítimas representantes da igreja fundada por Edir Macedo.

A IURD Angola (ala brasileira) queixou-se hoje de ter visto suspensos, sem notificação prévia, os programas de evangelização que eram transmitidos em duas plataformas de televisão por cabo, a Multichoice (DSTv) e TV Cabo, por ordem do Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social (Minttics).

Numa nota de esclarecimento, a direção da IURD Angola (ala legitimada) diz ter desenvolvido ações junto das instituições competentes do Estado para a suspensão dos programas de rádio e televisão “pois, estavam a ser produzidos conteúdos religiosos por um grupo de pessoas sem a devida autorização” do bispo Valente Bizerra Luís, atual representante legal da associação religiosa.

Declara, ainda, que antes de recorrer a estas instituições envidou esforços para “colmatar tal situação junto dos órgãos de comunicação social e plataformas digitais, infelizmente, sem sucesso”.

No mesmo comunicado, apelam aos membros da IURD para “não se deixarem manipular por grupo de indivíduos comandados pelos senhores António Ferraz e Alberto Segunda, que tem agido em falsa qualidade para ludibriar a sociedade e as instituições, colocando em causa a idoneidade dos órgãos competentes do Estado, incitando ódio e violência”, prometendo igualmente retomar os programas religiosos.

A IURD de origem brasileira, por seu lado, fala de uma “rebelião sem precedentes" que se instalou em 2019, e levou à separação em duas alas, sendo este “mais um golpe desumano e brutal contra as centenas de missionários, milhares de obreiros, jovens e simpatizantes da igreja por toda a Angola".

Promete, também, continuar em busca da restituição da legalidade, sem detalhar quais as ações subsequentes.

Em declarações à Lusa, o porta-voz desta ala, pastor Olívio Alberto fala de "perseguição religiosa", já que os representantes da IURD foram absolvidos de vários crimes de que eram acusados e questiona: "onde está o documento legal que atesta o sr. Valente Bizerra como líder da Igreja Universal?".

Em abril do ano passado, o Minttics suspendeu as licenças de três canais de televisão, entre as quais a Record TV Africa, ligada à igreja fundada pelo brasileiro Edir Macedo, alegando inconformidades legais, entre as quais o facto de o diretor executivo da empresa não ser angolano e ter jornalistas estrangeiros não credenciados no país.

A Record TV tinha exibido diversas reportagens desfavoráveis ao Governo de Angola, afirmando que os brasileiros eram vítimas de xenofobia no país.

A IURD (ala brasileira) alega ser reconhecida em Angola desde 1992 e ter o bispo António Miguel Ferraz como seu legítimo representante, eleito em assembleia geral.

No entanto, o Instituto Nacional para os Assuntos Religiosos (INAR) não reconhece esta ala, tendo antes legitimado a liderança do bispo Valente Bizerra Luís, que coordenava a comissão de reforma que entrou em conflito com a direção brasileira da IURD em 2019, com troca de acusações mútuas relativas à prática de atos ilícitos.

Os angolanos, liderados pelo bispo Valente Bezerra, afirmavam que a decisão de romper com a representação brasileira em Angola encabeçada pelo bispo Honorilton Gonçalves, fiel ao fundador Edir Macedo, se deveu a práticas contrárias à religião, como a exigência da prática da vasectomia, castração química, práticas de racismo, discriminação social, abuso de autoridade, além da evasão de divisas para o exterior do país.

As alegações sempre foram negadas pela IURD Angola que acusou os reformistas de "ataques xenófobos" e agressões a pastores e intentou também processos judiciais contra os dissidentes.

Em 27 de maio, o INAR emitiu uma "declaração de idoneidade da confissão religiosa", com validade de um ano, declarando ser Valente Bizerra Luís o representante legal da IURD.

Em tribunal, correm ainda processos relacionados com a propriedade dos templos, que estiveram apreendidos por ordem da Procuradoria-Geral da República (PGR) e reabriram recentemente.

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