"É preciso que Angola se possa cumprir de facto. É da faísca do confronto de ideias que pode nascer à luz de um país melhor. E é isto que a diversidade e os direitos humanos defendem", disse Pedro Neto na vigília promovida hoje junto da embaixada angolana contra a repressão policial naquele país.
A vigília, que juntou dezenas de pessoas, foi convocada pela Amnistia Internacional Portugal para "denunciar a violência de Estado em Angola, porque ela acontece a vários níveis. A brutalidade policial é uma delas e é mais visível na rua".
"Mas depois há também outro tipo de intimidações e de manobras de intimidação, em que muitos ativistas e manifestantes, livres-pensadores, são chamados às autoridades para se justificar, por exemplo, 'posts' e publicações nas suas redes sociais pessoais", detalhou.
A Amnistia Internacional (AI) Portugal lançou na vigília uma petição para o "fim ao uso da força excessiva, desproporcionada e letal" pelas forças de segurança angolanas, no exercício da liberdade de expressão e de reunião.
Paulo Fontes, diretor de campanhas da AI Portugal leu os nomes dos angolanos, alguns menores de idade, vítimas mortais às mãos das forças de segurança angolanas.
"Claro que a violência na rua e a brutalidade policial e aquilo que tem acompanha o maior drama, que é o mais de imediato que se vê com vítimas mortais", acrescentou Pedro Neto, que sublinhou que a AI Portugal "documentou, pelo menos nos últimos três anos".
Questionado se é possível comparar a repressão que alega às forças de segurança angolanas com a situação vivida durante o regime do anterior Presidente, José Eduardo dos Santos, Pedro Neto respondeu que não é possível comprar.
"Não sei dizer, comparativamente, o que é que é pior ou melhor. Aquilo que percebemos é que João Lourenço, quando toma posse, dá um sinal de esperança para a liberdade de expressão e para a liberdade de manifestação e de pensamento. Pensávamos que íamos ter diversidade de pensamento e de expressão em Angola, mas nada disso está a acontecer. Continua tudo igual. Os ativistas continuam a sofrer. Até mesmo pessoas que não são ativistas. Na pandemia houve até crianças que foram assassinadas na rua pela brutalidade policial e que não são ativistas. Saíram à rua para ir fazer recados", denunciou.
Presente na vigília, o ativista angolano Kenidi Domingos disse que o objetivo da iniciativa era denunciar "o nível de repressão policial em Angola, que tem aumentado a cada ano".
Além de cartazes a denunciar a repressão policial em Angola, os participantes na vigília acenderam dezenas de velas para recordar as vítimas.
A AI Portugal vai continuar a denunciar a repressão policial em Angola.
No domingo, em declarações à Lusa, Paulo Fontes salientou que a organização não-governamental "não vai parar este tipo de iniciativas".
"E não pararemos enquanto não for reposta a liberdade de expressão, a liberdade de reunião e os direitos humanos em geral em Angola e em todo o mundo, mas neste caso em concreto, em Angola", reiterou.
Na ocasião, Paulo Fontes lamentou que em Angola os manifestantes, os ativistas, "todas as pessoas que são uma voz dissidente são vistos pelas autoridades angolanas como incómodos e repetidamente são tratados como criminosos, quando isto não é verdade". "É, ao contrário", vincou.