Em tempos de crise em Angola, a compra e venda ilícita de moeda, formalmente designado por usura, tornou-se comum. Quem comprar 1.000 euros, por exemplo, terá de desembolsar 1.500 em 30 dias ao respetivo financiador.
André Kambongo, professor em Malanje, comprou em março, pela quarta vez, 300 mil kwanzas. O compromisso era reembolsar o dobro do valor no mês seguinte ao seu vendedor. Pouco mais de seis meses depois, este residente no bairro Campo da Viação, nos arredores da cidade, conta que ainda sofre as consequências da compra desse dinheiro.
"Para mim foi doloroso pagar uma quantia que eu não recebi, uma quantia muito elevada, senti-me muito mal", referiu, adiantando que a família teve de cortar no número de refeições diárias para poder pagar a despesa.
Esta prática é hoje exercida por todo o país. O economista Armindo Eusébio diz que o fraco poder de compra das famílias, a corrupção, o tráfico de influências e o excesso de burocracia nas instituições bancárias são algumas das razões que levam à procura de empréstimos a terceiros.
"O vizinho da porta da porta de trás não precisa criteriosamente de levantar estas hipóteses e volta aqui aquele ditado do mundo dos cegos. O país está em crise, alguns têm alguma coisa em casa e os outros não e aqueles que não têm nada para combater essa crise estão sujeitos a submeter-se [a esta situação]", comentou.
O pastor Pedro Felipe, da Igreja Metodista Unida na região norte de Angola, considera que a prática está a empobrecer mais as famílias.
"Nós às vezes tiramos do pouco que o outro consegue durante o dia", lamentou.
Este não é um problema novo em Angola, apesar de ser ilegal à luz do Código Penal, lembra Armindo Eusébio. O economista refere que as autoridades policiais recebem muitos casos do género e alguns transitam para os tribunais, porque os interessados na compra do dinheiro não cumprem.
"Claro que é um assunto de preocupação e já teve consequências, acho que já houve mortes, então o Estado deve continuar a manter o seu papel", referiu. DW Africa