Seca e preços altos agravam fome no sul e leste de Angola - relatório

Post by: 17 October, 2024

A seca e os preços altos estão a agravar a fome no sul e no leste de Angola, onde muitas famílias enfrentam um grau elevado de subnutrição, situação que deve prolongar-se até janeiro de 2025, segundo indicadores de um relatório.

“No sul e no leste de Angola, afetados pela seca, a época de escassez começou cedo, em setembro, sendo provável que muitas famílias tenham esgotado as suas reservas alimentares atipicamente cedo e se tenham tornado dependentes do mercado para obter alimentos num contexto de preços elevados”, indica o relatório de setembro da Rede de Sistemas de Alerta Precoce contra a Fome (FEWS NET) que analisa a insegurança alimentar em dezenas de países, que a Lusa consultou.

O documento salienta que devido a estes fatores há regiões onde o índice IPC, que classifica a gravidade e magnitude da insegurança alimentar e da subnutrição, é já 3 (crise) o que significa que há famílias que não têm alimentação suficiente e apresentam níveis elevados de subnutrição, enquanto outras são obrigadas a vender bens que sustentam os seus meios de subsistência para conseguir uma dieta mesmo assim limitada.

Estes efeitos, que deverão sentir-se até janeiro de 2025 atingem famílias pobres das províncias do Cunene, Cuando Cubango, Moxico, Huíla e partes das províncias de Benguela e Namibe, que dependem de assistência alimentar e são obrigados a vender produtos agrícolas para comprar alimentos.

“Os agregados familiares nestas áreas enfrentaram várias secas que estão a diminuir os meios de subsistência e a sua capacidade de lidar com os choques atuais”, lê-se no relatório. Além dos relatos de fome nas zonas afetadas pela seca, a FEWS expressa preocupação com o impacto negativo dos preços elevados dos alimentos em termos de acesso dos agregados familiares mais pobres em zonas rurais e urbanas, que provavelmente serão classificado como IPC2 (Stress), estimando-se uma classificação IPC 1 no resto do país devido a uma colheita média e à produção em segunda época.

A FEWS nota que embora o ritmo da inflação tenha vindo a abrandar, os preços dos alimentos básicos continuam a aumentar e permanecem elevados, podendo aumentar ainda mais devido à recente depreciação da moeda. “A inflação mensal dos alimentos tem vindo a diminuir desde fevereiro, tendo a inflação anual diminuído em agosto (para 30,5%) pela primeira vez desde abril de 2023.

No entanto, a dependência de Angola de alimentos importados, combinada com a recente depreciação do kwanza angolano em relação ao dólar também está a ter impacto nos preços dos alimentos”, destaca o relatório.

Segundo a FEWS, os modelos de monitorização mostram uma humidade do solo muito baixa em grande parte de Angola em agosto, que só diminuirá ligeiramente em setembro, com uma recuperação “atipicamente lenta”. Além disso, alguns agricultores também não têm sementes de milho para plantar e a as importações de fertilizantes ainda estão pendentes.

A FEWS nota, no entanto, que é provável que a capacidade de compra de alguns agregados familiares melhore devido aos aumentos significativos do salário mínimo, que entraram em vigor a 15 de setembro e se destinam a compensar a inflação, já que os salários foram aumentados entre 45 e 100 por cento.

“Alguma ajuda humanitária relacionada com a seca está atualmente a ser canalizada para dois municípios na Huíla e dois no Cunene, mas o âmbito da ajuda alimentar humanitária alargada nos próximos meses permanece incerto”, conclui o relatório.

Last modified on Thursday, 17 October 2024 21:32
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