O Presidente cessante, Joseph Kabila, "vai poder influenciar Tshisekedi", que agora "deve a sua ascensão ao poder ao controlo de Kabila sobre a comissão eleitoral", afirma numa nota enviada às redações Robert Besseling, diretor executivo da Exx Africa, Business Risk Intelligence.
"Pelo menos inicialmente, Tshisekedi ficará dependente do favor político de Kabila, que procura imunidade judicial e a proteção da sua família em interesses económicos substanciais", continua Besseling.
A coligação no poder, apoiante de Emmanuel Shadary, delfim de Kabila, fez uso de "intimidação generalizada" e da "adulteração dos resultados eleitorais", mas "estes esforços acabaram por ser insuficientes para garantir a vitória de Shadary", sublinha a nota.
Kabila "não quis arriscar" anunciar a vitória do seu delfim, que iria deflagrar protestos violentos e a condenação internacional, pelo que "escolheu dividir a oposição ao chegar a um acordo de partilha de poder com Tshisekedi", acrescenta a Exx Africa.
A consultora junta-se aos que dão relevo ao escrutínio paralelo dos votos levado a cabo pela poderosa Conferência Episcopal Congolesa (CENCO), que atribuiu a vitória eleitoral ao candidato da oposição Martin Fayulu, também considerado hoje vencedor pelo Governo francês.
A nota sublinha que a CENCO compreende cerca de metade da população do país e que é a instituição mais poderosa da RDCongo. "A palavra da CENCO no resultado das eleições será por isso respeitada por muitos congoleses, que suspeitam que as eleições foram manipuladas", refere a nota da Exx Africa.
A consultora chama a atenção para a deslocação de 15 mil efetivos militares e das forças de segurança nos principais centros urbanos e potenciais focos de violência e recorda que eventos precedentes sugerem que estas forças venham a ser usadas para "esmagar" quaisquer tentativas de protesto por parte da oposição.
Finalmente, "subsiste ainda a hipótese da atual administração se recusar à cedência do poder", pelo que não é de excluir o cenário da "deslocação das forças militares para os principais centros urbanos e da detenção de figuras políticas relevantes", alerta.
Além disso, "a eleição pode também ser anulada pelos tribunais", conclui a nota.
A comissão eleitoral da República Democrática do Congo informou hoje que um dos candidatos da oposição, Felix Tshisekedi, venceu as eleições presidenciais.
Tshisekedi recebeu mais de sete milhões de votos, contra os mais de seis milhões arrecadados por outro candidato da oposição, Martin Fayulu, e por aquele apoiado pelo partido do Governo, Emmanuel Ramazani Shadary, que obteve mais de quatro milhões de votos.
Este resultado sem precedentes na RDCongo ainda pode ser contestado junto do Tribunal Constitucional, que tem a partir de agora 14 dias para validar a votação.
Neste momento permanecem dúvidas sobre a possibilidade de os resultados serem contestados por Martin Fayulu, que liderou as sondagens e advertiu contra uma possível fraude eleitoral.
O anúncio do sucessor do Presidente cessante Joseph Kabila, inicialmente previsto para domingo, surge na sequência de pressão internacional e num clima de suspeição entre a população, que temia uma manipulação dos resultados.
Um grupo de observadores locais, Symocel, afirmou ter testemunhado 52 irregularidades "graves" nos 101 centros de voto que analisou.
A União para a Democracia e o Progresso Social (UDPS) já tinha afirmado que o seu candidato, Félix Tshisekedi, seria o "presumível" vencedor das presidenciais.
Estas eleições eram vistas por muitos como uma hipótese de a RDCongo ter uma primeira transição de poder pacífica desde a sua independência, em 1960.
As eleições de 30 de dezembro, com 21 candidatos presidenciais, não se realizaram em todo o território, uma vez que a comissão eleitoral decidiu adiar para 19 de março o ato eleitoral nas cidades de Beni, Butembo e Yumbi, devido à epidemia do Ébola e aos conflitos dos grupos armados.
Inicialmente previstas para 2016, estas eleições de 30 de dezembro tinham sido adiadas duas vezes.
O ainda Presidente Joseph Kabila governa desde 2001 um país rico em recursos naturais, mas marcado por crises políticas e por um conflito armado que causou milhões de deslocados.
A RDCongo é o maior Estado da África Central, com 81,3 milhões de habitantes (Banco Mundial, 2017), principalmente católicos.