"Embora não tenha havido muito alarde sobre o levantamento das últimas restrições à covid-19, registou-se uma mudança tectónica na nossa psique nacional", referiu hoje ao país o chefe de Estado sul-africano através da sua newsletter semanal.
O Presidente da África do Sul, que enfrenta uma polémica nacional ao ser acusado de ter ocultado um assalto a uma das suas residências, no qual foi descoberto o equivalente a quase quatro milhões de euros em notas escondidos nas mobílias da casa, numa quinta agrícola, considerou que a sociedade sul-africana "está a emergir de um grande trauma nacional que causou danos incalculáveis, destruição e desgosto".
Sem mencionar o Congresso Nacional Africano (ANC), o partido no poder do qual é também presidente, Ramaphosa adiantou que "a era da captura do Estado foi um tipo diferente de trauma nacional", comparativamente à pandemia de covid-19.
"Os seus danos foram além do saque do erário público, da tentativa de destruição das nossas instituições públicas e da grande corrupção que roubou ao povo sul-africano o que era seu por direito. Foi também uma traição aos valores da nossa Constituição e aos princípios sobre os quais a nossa democracia foi fundada", salientou.
"O comportamento imoral, antiético e criminoso de indivíduos egoístas em posições de autoridade minou a confiança do povo nos líderes e instituições que deveriam servi-los. Isso criou uma lacuna de confiança que levará algum tempo para sarar", adiantou.
O líder sul-africano, que é o quinto Presidente da República sul-africana desde a queda do `apartheid` em 1994, apelou aos sul-africanos para "romperem decisivamente com os excessos do passado, construindo uma sociedade livre de corrupção e um Estado enraizado na ética, no profissionalismo e na capacidade que realmente sirva o povo sul-africano".
"Também temos a oportunidade de reconstruir uma sociedade mais inclusiva, mais humana, fundada na igualdade de oportunidades para todos e que proteja os mais vulneráveis", frisou o Presidente sul-africano.
"Tendo agora sabido o que aconteceu e quem estava envolvido, o nosso trabalho começa a sério. Devemos garantir que haja reparação, justiça e responsabilidade, e que um período tão vergonhoso nunca mais aconteça", concluiu Ramaphosa.
Na apresentação do relatório final da comissão, o juiz Raymond Zondo, que liderou a investigação de quatro anos sobre o saque generalizado de recursos do Estado sul-africano entre 2009 e 2018, referiu que as recomendações do inquérito "abordam significativamente a corrupção na captura do Estado", caso o Governo implemente as recomendações.
Durante os cerca de 10 anos de governação de Zuma, Ramaphosa desempenhou o cargo de vice-presidente da República, de 2014 a 2018.