"O que é que o novo Presidente vai fazer? É uma questão que neste momento todos os angolanos perguntam", afirmou à Lusa o jornalista e ativista dos direitos humanos angolano, dias antes da cerimónia de posse de João Lourenço como novo Presidente de Angola, esta terça-feira.
Para Rafael Marques, João Lourenço, candidato do MPLA às eleições de 23 de agosto e antigo ministro do executivo de José Eduardo dos Santos, prometeu combater a corrupção, mas isso foi "puramente eleitoralista".
"Não se vislumbram medidas, ideias, uma nova forma de pensar que venham garantir alguma confiança aos angolanos de que João Lourenço fará diferente", considerou.
Rafael Marques referiu que o Presidente cessante, que vai permanecer à frente do MPLA, deu ordem de "queima de arquivos" para anular todas as inspeções feitas na administração pública desde 2013, além de João Lourenço estar impedido de alterar as chefias militares e policiais e os conselhos de administração das empresas públicas, como a Sonangol, liderada por Isabel dos Santos, uma das filhas de José Eduardo dos Santos.
À pergunta que "todos os angolanos" fazem, o ativista responde: "O que se pode esperar deste Presidente é mais violência, mais repressão, para poder impor-se no poder. Não se vai impor por medidas económicas, não se vai impor por tentar limpar a casa, mas simplesmente vai tentar impor-se sendo mais repressivo".
Exemplo disso é, para Rafael Marques, a "violência extrema" contra elementos da UNITA (maior partido da oposição) recentemente, em Benguela, com a participação de um "membro do `bureau` político do MPLA", sem que João Lourenço tenha dito "uma palavra [no sentido de] que a polícia não deve ser usada para combater os elementos da oposição".
"Não temos instituições do Estado que funcionem pela defesa dos interesses dos cidadãos e do respeito pela lei", lamentou, deixando também críticas à forma como decorreram as eleições.
"Um processo eleitoral em que não se apuram os votos, que é o elementar, e a comunidade internacional é a primeira a dizer que está tudo bem", disse.
Rafael Marques considera que o país atravessa "um período muito complicado" e sublinha a necessidade de "pensar como se deverão criar em Angola novas alternativas, estimular a juventude, sobretudo, a ter uma nova forma de pensar e de agir que ultrapasse toda esta teia de interesses geopolíticos e económicos internacionais que estão ligados ao regime do MPLA, representado por José Eduardo dos Santos e João Lourenço.
João Lourenço foi confirmado como novo Presidente de Angola no dia 06 de setembro, data em que a Comissão Nacional de Eleições divulgou os resultados definitivos das eleições gerais de 23 de agosto, que deram a vitória com 61% ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) foi a segunda força política mais votada, com 26,67% dos votos, seguindo-se a coligação de partidos Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), com 9,44%.
A oposição contestou os resultados junto do Tribunal Constitucional, mas os recursos foram chumbados.