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Hora de partir - Graça Campos

Post by: 30 Outubro, 2017

I - Alguém precisa de dizer ao ex-presidente José Eduardo dos Santos (JES) que ele já não é benquisto.

Por Graça Campos

Nas redes sociais – e não só – há como que uma campanha para a expulsão dele da presidência do MPLA e da vida dos angolanos.

A moção de apoio feita recentemente pelo Comité Central aumentou esse sentimento de repulsa.

Homem avisado, como sempre foi, JES desta vez caiu estrondosamente. Deveria ter endossado essa moção de apoio ao seu sucessor. Mas o problema é que o antigo presidente da República não dispensa a adulação à sua pessoa. É “doente” por isso. Nos seus círculos familiares corre a versão de que se queixa de que os angolanos não reconhecem suficientemente os seus feitos e por isso os acusa de ingratidão. Será por essa razão que ele recebe com imensa felicidade os actos de adulação à sua pessoa e quase conferiu dignidade constitucional à bajulação.

A maka, como dizemos aqui entre nós, é que milhões de angolanos estão fartos disso e pedem a José Eduardo dos Santos que saia do palco político pelo próprio pé. Mas ele parece preferir ser empurrado a largar o osso.

De jure ele deixou a chefia do Estado. Mas, na prática, continua a deter as rédeas do poder. Se não for imediatamente travada, a filha dele, Isabel dos Santos, adicionará a Sonangol ao seu vasto leque de empresas privadas. O filho, José Filomeno, transformou o Fundo Soberano no seu cofre particular. Os outros filhos entregam-se a toda a sorte de extravagâncias. De um deles se diz ter um repreensível desempenho escolar em Londres, mas mesmo assim tem dinheiro suficiente para se permitir arrebatar um relógio por 500 mil dólares. Outros filhos tomaram de assalto o canal 2 da Televisão Pública de Angola e rapidamente transformaram-no num parque de diversão que mostra uma Angola exclusivamente cor de rosa, de promoção do lesbianismo e da perversão sexual.

O que precisa de ser dito e reconhecido corajosamente é isto: a cotação de JES está de rasto. Prolongar a sua permanência no comando do MPLA não vai subir-lhe a nota. Pelo contrário.

O mais sensato é que ele se retire imediatamente e faça aos angolanos o favor de levar consigo toda a sua tralha, que inclui os filhos, a quem entregou de bandeja a Sonangol, Nova Cimangola, Unitel, Fundo Soberano, TPA 2, Banco de Fomento Angola, Brumangol, etc. Nessa tralha cabem também o “Beiral” que ele impôs ao MPLA. Ou seja, aquela velharia toda que está no Parlamento sem nenhum proveito para o país. Afinal, se em 2001, ele disse que a sua geração já tinha cumprido o seu papel, que sentido faz hoje ter na Assembleia Nacional septuagenários e octogenários?

José Eduardo dos Santos esteve no poleiro por longos 38 anos. Fez o que quis e as circunstâncias lhe permitiram fazer. Acumulou riqueza; enriqueceu toda a sua família e arredores. É chegada a hora de ir desfrutar dessa riqueza. Se não pendurar as chuteiras agora, aos 75 anos, quando terá tempo para usufruir do dinheiro que está nas contas bancárias lá dos paraísos fiscais?

As pessoas que o adulam e que receberam dele generosas recompensas têm de ser corajosas o suficiente para lhe dizerem que chegou o momento de arrumar definitivamente as botas.

De outro modo, arrisca-se a ser vaiado nas ruas.

II - Não é necessário desperdiçar muito “latim”. É óbvio que o novo presidente da República (PR) não vai dar oxigénio aos miseráveis desempregados que agora se juntaram no que chamam de Clube dos Amigos de João Lourenço (JL).

Há fortes razões para não acreditar que JL vá apoiar esses aduladores profissionais. Nomeadamente: onde esses desavergonhados andavam quando o novo PR fazia a travessia no deserto depois de haver se manifestado disponível para substituir José Eduardo dos Santos em 2001?

Se JL encorajar esses candidatos a “tontons macoutes” estará a igualar-se ao seu predecessor, um homem que não convive com a falta de culto à sua pessoa; um homem que premiou a bajulação a si, compensando com cargos ministeriais e outros sujeitos como Gonçalves Muandumba, Luvualo de Carvalho, Norberto Garcia, Belarmino Van-Dunem, João Pinto, Kundi Paihama, Mário Pinto de Andrade e tantos outros, que, voluntariamente, trocaram a dignidade pessoal pelas benesses materiais.

A sociedade angolana hoje está completamente enjoada de pessoas que fazem da bajulação o seu modo de vida. A bajulação é coisa do passado.

Se JL está verdadeiramente empenhado em deixar obra neste país tem de começar por uma coisa: demarcar-se publicamente dos “bajús” que se auto-proclamam seus amigos. O Ministério da Justiça tem de ilegalizar a dita associação e deveria aproveitar a embalagem para mandar também para aquele sítio coisas como o Movimento Espontâneo, Amangola e associados.

Reconhecer o dito Clube dos Amigos de João Lourenço e seguidamente atribuir-lhe o estatuto de entidade de utilidade pública – como José Eduardo dos Santos não se cansou de fazer a toda corja de bajuladores – seria uma traição a tudo aquilo que o novo PR prometeu durante a campanha eleitoral.

Já agora, o PR poderia também aproveitar a oportunidade para retirar o estatuto de utilidade pública que José Eduardo dos Santos atribuiu a uma desconhecida Fundação Inovação para África, criada pelo seu filho José Filomeno dos Santos, com o suposto objectivo de promover projectos em Angola na área da educação, saúde e inovação tecnológica. Hoje está claro que a criação dessa fundação foi mais um pretexto no qual o antigo PR se refugiou para drenar dinheiro para a sua família. Na mesma esteira estão, igualmente, o estatuto de utilidade pública que JES atribuiu a “coisas” como Movimento Espontâneo, Amangola, Kabuscorp, etc.

Em suma: João Lourenço tem de impor-se por si, pelo seu mérito e não à custa da adulação oportunista. Os cofres públicos não podem continuar a ser saqueados para contemplar meia dúzia de sujeitos que não se esforçam por aprimorar habilidades para o trabalho sério e honesto. O presidente da República tem de estimular o trabalho socialmente útil e não o parasitismo. (CA)

Last modified on Segunda, 30 Outubro 2017 15:20
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