Com a eficiência das parceiras internacionais calejadas na pesquisa e produção em alto mar, a Sonangol povoou o litoral angolano de torres bruxuleantes e plataformas flutuantes, como nunca antes alguém podia ter imaginado. Até que no ano de 2004, sai a notícia: “Angola está a produzir mais de um milhão de barris de petróleo por dia desde Agosto, quando entrou em produção o projecto ‘Kizomba-A’, no Bloco 15, ao largo da costa angolana.” É pá!, gritaram os angolanos, agora é que vamos ter água e luz, boas escolas, hospitais e estradas!
Porque razão os angolanos pensaram assim? Pensaram dessa forma, porque a guerra tinha terminado dois anos antes, em 2002. Pensaram dessa forma, porque, só no ano de 2003, “as receitas fiscais da exploração de petróleo totalizaram 3,2 mil milhões de dólares (2,56 mil milhões de euros).” Receita fiscal é uma coisa. Rendimento da empresa é outra coisa.
Paradoxalmente, um absurdo sobre a gestão da empresa petrolífera, admitido pela administração cessante, é que quando essa administração entrou para a Sonangol, encontrou uma dívida de 13 mil milhões de dólares, mais de duas vezes o cumbu que o Fundo Soberano guarda sigilosamente num cofre que não o do BNA.
Ora muito bem, se canta na Sé! Como é que uma empresa que, em 2004, produzia um milhão de barris de petróleo (cerca de 35 milhões de dólares) por dia, pode ter deixado essa dívida de 13 mil milhões de dólares? Porque é que a antiga direcção da Sonangol, mesmo sabendo da enorme dívida, suspendeu, em 2016, a construção da refinaria do Lobito, quando se sabe que o combustível é importado por uma empresa angolana que o revende à Sonangol?
Se a Sonangol, que era a única “galinha dos ovos de ouro” do país, tinha essa dívida, é porque alguém andou a chupar os ovos com a boca colada à cloaca (para não utilizar outro termo muito popular) da galinha. O resultado é que agora o Presidente João Lourenço herdou um Estado em perfeita bancarrota. Levaram tudo, os que andaram a chupar os ovos de ouro na cloaca da galinha. Não há dinheiro nos cofres do Estado. Nem para comprar medicamentos e consumíveis para o hospital pediátrico!
Por isso é que o Presidente João Lourenço demitiu a antiga direcção da empresa. Senão, não conseguiria governar. E não vai governar eficazmente, não vai conseguir resolver os problemas do povo, que são vastos como a areia do Namibe, se não retornar, com a soberania e a legitimidade que lhe foi conferida pelo acto eleitoral, os ovos de ouro das bocas gulosas de volta para a incubadora do Estado, para serem reproduzidos, organizada e planificadamente, em desenvolvimento sustentado para as gerações vindouras.
Desde que a Sonangol é Sonangol, exclusiva fonte de dinheiro para (quase) todas as necessidades nacionais, as contas da empresa jamais foram transparentes.
A gestão da Sonangol nunca foi um livro aberto, onde qualquer cidadão dono relativo da nossa empresa, empresa do povo angolano, pudesse ler claramente quanto é que rendeu “o nosso petróleo (que) vai longe” e onde é que esse dinheiro foi empregue.
O povo angolano, verdadeiro dono da Sonangol, exige que, a partir de agora, a empresa apresente ao país um relatório anual de contas, fiscalizado por uma empresa externa à Sonangol, que saia no Jornal de Angola e no Diário da República e que possa ser também alvo da fiscalização de economistas independentes. A galinha vai cacarejar de contente!. Jornal de Angola