“Se quiserem que eu saia, eu saio já!”, começou por dizer o antigo presidente angolano José Eduardo dos Santos depois de Roberto de Almeida, um dos subscritores de um abaixo assinado contra a sua continuação à frente dos destinos do MPLA, exigir de imediato terminar com bicefalia que se verifica em Angola. Recorde-se que João Lourenço é o Presidente da República, enquanto José Eduardo dos Santos é o líder do partido que governa Angola.
Perante a contestação de Roberto de Almeida e outras vozes criticas, tal como Rui Falcão, governador de Benguela e Paulo Pombolo, antigo governador do Uíje, José Eduardo dos Santos mostrou-se visivelmente incomodado. A antigo governadora de Cabinda saiu em defesa do líder máximo do MPLA, denunciando “grupinhos que pretendem instalar a confusão” durante a reunião do comité central do MPLA, que se realiza esta sexta-feira.
Perante a denuncia da antiga governadora de Cabinda, José Eduardo dos Santos diz estar a par de tudo, dando lugar ao silêncio dos restantes membros da direção do MPLA, acalmando desta forma a reunião do comité central.
Ainda assim, e segundo um dos participantes da reunião, "não houve nenhuma manifestação de apoio à sua continuidade à frente do partido, como seria seu desejo”.
O próximo passo deverá ser a realização de um congresso extraordinário para debater a continuidade de José Eduardo dos Santos à frente do partido. “Se o problema é o congresso, vamos realizá-lo. Não quero ser um empecilho”, disse.
O Presidente da República de Angola João Lourenço também teve uma palavra a dizer, alertando que sendo ele o vice-presidente do partido será natural que seja ele a assumir a liderança do partido. José Eduardo dos Santos não gostou e recordou que a última palavra sobre esta matéria está reservada para ele.
Na origem de toda esta contestação poderá estar o recente inquérito aberto à filha de José Eduardo dos Santos, Isabel dos Santos, por alegados desvios de fundos da Sonangol. No entanto não é só a filha do ex-presidente que está na mira das autoridades angolanas. Também o seu irmão Filomeno dos Santos foi constituído arguido recentemente devido a uma transferência ilícita de 500 milhões de dólares para Londres via Banco Credit Suisse.
O partido desmente existência de "clivagens" mas admite reflexão sobre esse período de transição.
A esse respeito, o MPLA emitiu um comunicado esta semana afirmando que “indivíduos eivados de má-fé estão a fazer circular, através das redes sociais e não só, uma onda de especulações, fazendo crer da existência de clivagens graves no seio do MPLA, o que não corresponde à verdade, porquanto o partido mantém-se coeso e pronto para discutir, democraticamente, todos os assuntos da actualidade política de Angola”.
O documento disse ainda que a direcção do MPLA ”nunca se furtará à reflexão, clara e objectiva, sobre o processo de transição político-partidária, tal como o fez a respeito do aparelho do Estado”.
O deputado da UNITA Makuta Nkondo disse estar convencido de que essas clivagens sejam verdadeiras e acrescentou que José Eduardo dos Santos “quer voltar atrás” com a sua promessa de abandonar a política este ano e nomear Paulo Kassoma para presidente do partido.
Entretanto, o comentarista Joao Lukombo Zatuzola afirmou que não resta outra saída a Santos a não ser abandonar a chefia do partido este ano.