Por João Henrique Rodilson Hungulo
Em segunda instância, a “bicefalia” expressa a existência de dois líderes, que mesmo sendo do mesmo partido político, podem não convergir interesses, objectivos e metas, neste âmbito, a “bicefalia” pode ser perigosa na arena política. No último caso, a “bicefalia”, se constitui num estado de conflito entre uma liderança partidária e uma liderança de um País, mesmo que se converjam os interesses partidários.
Desde o ponto de vista etimológico, politicamente, o termo bicefalia, remonta era clássico e primitiva, implicando a existência de duas cabeças que dirigem a mesma estrutura organizacional. Nesta índole, a coexistência de duas cabeças, jamais teria senso de prejuízo organizacional, no âmbito do exercício de actividades que sustentam a direcção da estrutura da organização na qual as duas cabeças estão inseridas; todavia, esse facto, somente teria êxito, caso levássemos em conta que essas duas cabeças tivessem interesses comuns, visões comuns e opiniões comuns, essas duas cabeças compartilhassem os mesmos objectivos, metas e acções, se de facto, as duas cabeças fossem possuídas, pelo mesmo horizonte visionário face as circunstâncias que os envolve.
Esse ângulo de pensamento nos leva a expressar que, as duas cabeças são equiparáveis a uma só cabeça portadora de dois cérebros diferentes, neste contexto, se os dois cérebros inseridos apenas numa só cabeça estiverem desde o ponto de vista de integração e cooperação organizacional bem estruturados, exerceriam um sobre o outro um elevado sinergismo organizacional na unidade das suas ideias, reflectindo – se na amplitude da capacidade organizacional no que concerne a análise dos problemas e resolução dos mesmos.
Essas duas cabeças, na representação de esculturas clássicas ou primitivas de bicefalia, constituem – se de dois lados em que duas cabeças se juntam uma atrás da outra, porém, na mesma direcção, similares a imagens de animais de duas cabeças em que ambas têm os olhos voltados para diante expandindo seu campo de visão e tendo que coordenar para puxar um único corpo em uma única direção.
Porém, se evidenciar – se conflitos de interesses no seio da bicefalia, estaríamos perante um fenómeno chamado esquizofrenia política, caracterizada por uma desordem da personalidade política gerando crise de identidade política e conflitos de interesses desiguais.
Neste ângulo, evidenciar – se – ia, uma série de transtornos de natureza política, porque o síndrome da bicefalia seria capaz de expressar sintomas gravemente perigosos para a acção política do governo vigente, com distorções da realidade, erros no tempo, amnésia ou ataques de pânico político, neste relevo, a bicefalia seria entendida como um mal trágico capaz de reverter o progresso de uma Nação.
Porém, se for entendida a bicefalia como a coexistência de duas cabeças unidas, coesas, que partilham interesses, valores e visões; duas cabeças portadoras da mesma forma pensante e de um espírito de unidade, único, objectivo e fixo nos mesmos ideais, com apenas uma única direcção, nestes termos, a bicefalia, não seria vista como um fenómeno maléfico para o Governo de um País.
No pensamento exposto acima, as duas cabeças estão unidas a um tronco comum e, não obstante, as divergências existentes na abordagem de problemas organizacionais, necessitará de vias adequadas para a solução pacífica num clima salutar e diplomático que prime pela unidade da organização, deixando de longe os interesses particulares de cada cabeça, nesta natureza, as pessoas deveriam ser seriamente treinadas para tal exercício, nesta esfera, se alguém dá uma ordem em uma direcção e a outra em uma direcção contrária, invariavelmente, ocorre a queda desproporcional da organização dirigida pelas duas cabeças. Se para essa coordenação necessária adicionamos uma boa distribuição de funções, não parece que estamos realmente diante de um problema que acarreta sérias preocupações, porém, se entre ambas as pessoas, não houver convergência de ideias e de interesses, isso causará sérios danos de funções a organização sustentada pelas duas cabeças, sendo vista assim a bicefalia como um mal prejudicial para a estrutura organizacional.
A bicefalia (quando em clima de divergência entre ambas), não nos parece apresentar valores essenciais que visam fortificar as acções de um governo, somente o fariam, se o sistema político angolano fosse similar ao dos EUA, ou da maior parte dos passei ocidentais onde existe clara distinção entre partido e governo, ou seja, o partido não se intromete nas acções do governo, no caso de Angola, Rússia, Cuba, China, Coreia do Norte, Venezuela, o partido funciona como alavanca do governo, o factor decisivo das decisões impostas pelo governo, nesta vertente, o bureau político, assume – se como privilegiado no que concerne as decisões a serem imposta pelo governo, não é o governo que dirige o partido, mas sim o partido que dirige o governo, neste modelo político, a bicefalia, somente teria êxito, caso existisse entendimento e coesão entre ambas as entidades, caso contrário, a existência da bicefalia reflectir – se - ia num mau funcionamento do aparelho do Estado, distorcendo a aplicações de acções plausíveis, uma vez que, o presidente do partido, tende a ser o mais influente nas decisões tomadas pelo governo em virtude do partido ser a chave do governo, o factor fundamental da actuação do governo.
O valor manifestado pela bicefalia dicotómica, não é capaz de conduzir-nos em desconformidade com um valor construtivo nos termos de Angola, a bicefalia dicotómica, seria um prejuízo inevitável para o funcionamento do aparelho do Estado, não adequando-se aos valores essenciais consagrados na Constituição angolana. É esse aspecto negativo, socialmente maléfico da bicefalia dicotómica, que deve ser desencorajado e que sua valorização não impõe nenhum acto positivo para a marcha salutar do aparelho do Estado.
O que queremos na exposição do presente artigo de opinião é o impedimento de actuação de valores bicéfalos contrários àqueles ditos constitutivos, ou, noutras palavras, contribuir para a máxima eficácia na coesão dos interesses do governo angolano à luz da Constituição Angolana.
Firme-se, pelo até agora exposto, esta noção de bicefalia: é a relação contrária ou unânime entre dois líderes do mesmo partido, em que um sendo líder do partido não é o chefe do governo, e o outro sendo chefe do governo não é o líder do partido, podendo nesta sorte resultar em contradições quando a crise de entendimento for um facto, tendo este cenário maior evidência em Angola, onde os interesses partidários estão acima de todos interesses do Estado, ou seja, o partido está acima do Estado, porque é do partido onde residem os orgãos do Estado, sendo este o organismo central da existência do próprio Estado.
A bicefalia dicotómica, corresponde a uma relação contrária de valores e é para nós um valor. É valor porque a rejeitamos, desejamos que ela não exista no seio de um partido que assume o papel de governo. E sendo para nós um valor, implica o seu valor contrário, pois os valores são polares. A bicefalia dicotómica para nós é um valor negativo e, portanto, não deve ser. A ela corresponde o que deve ser, isto é, a unicefalia, para nós um valor positivo e em si uma relação coincidente de valores. Queremos realizar nossos valores políticos em coesão com o governo e o Estado e impedir que os valores expressos na carta magna sejam violados.
Assim como a bicefalia contraditória ou dicotómica, vista como unidade (externamente), é um valor negativo para nós e implica um interesse que desejamos; vista como relação (internamente) o valor contrário aos valores constitucionais da nação angolana, que constitui um de seus termos, é também um desvalor que implica o seu contrário, isto é, um valor possível harmónico com aqueles valores essenciais e não actualizado (em potência).
A bicefalia ocorre porque houve uma opção, uma escolha, o que é necessário, porque os termos de sua relação são valores. Ora, onde há opção, há preferência e há preterição. Realmente, pode-se descrever a bicefalia como a actualização, pela preferência do agente, de um valor contrário aos valores constitucionais angolanos.
Na bicefalia política existe a expressão de valores contrários ou convergentes, quando contrários, a acção do Governo fica comprometida pela imposição do partido, neste ângulo, os valores contrários variam de intensidade, a ponto de tornarem-se de observação obrigatória.
Todas as explicações aqui desenvolvidas foram uma tentativa de compreender as implicações e contratempos impostos pela bicefalia política, por isso, o interesse desse artigo, foi feito com a intenção de uma visão concreta da política angolana vigente na actualidade.
BEM – HAJA!
“SE A UNIDADE FOR UM PRECONCEITO, A CONTRADIÇÃO SERÁ CONSEQUÊNCIA. A UNIDADE É A EXPERIÊNCIA SUPREMA DA COESÃO DE UM GRUPO OU ORGANIZAÇÃO, NUMA COMPLETA LIDERANÇA HARMÓNICA.”