A presidência de João Lourenço acusou Eduardo dos Santos de não respeitar normas protocolares e ter rejeitado um apelo pessoal do presidente para seguir essas normas.
Uma nota de imprensa da presidência afirma que “ a surpreendente decisão do ex-Presidente da República se fazer transportar em aeronave comercial estrangeira, em detrimento da própria companhia de bandeira TAAG na sua deslocação à Europa, contraria diligências protocolares e logísticas desencadeadas pelo Estado angolano nas últimas semanas, que pôs à sua disposição uma aeronave compatível com o seu estatuto”.
A nota torna claro que Eduardo dos Santos rejeitou mesmo um contacto pessoal de João Lourenço que se deslocou à residência do ex presidente para o tentar dissuadir a aceitar “as normas e os princípios de protocolo atendíveis”.
“Tão logo o Executivo soube da intenção, por parte do ex-Presidente da República, de rejeitar a utilização do meio aéreo contratualizado, foram accionados todos os canais de diálogo e persuasão em ordem a prevalecer as normas e os princípios de protocolo atendíveis, sem que, contudo, tais esforços desembocassem numa solução para o impasse, nem mesmo depois de hoje, pelas 17 horas, o Presidente da República, João Lourenço, se ter deslocado e falado com o ex-Presidente na residência deste, ao Miramar”, afirma nota.
A presidência disse que apesar disso foram assegurados “todos os aspectos logísticos e financeiros relacionados com a atenção médica a que se submeterá o ex-Presidente José Eduardo dos Santos em Espanha”.
“O Executivo lamenta profundamente tal atitude, cujas consequências não são da sua responsabilidade”, acrescenta a nota de imprensa da presidência.
A declaração não revela contudo quaisquer pormenores sobre os argumentos que Eduardo dos Santos teria apresentado ao Presidente para se recusar a viajar numa “aeronave compatível com o seu estatuto” ou mesmo a viajar na TAAG.
Eduardo dos Santos não emitiu até agora qualquer declaração.
Cisão pública entre Lourenço e dos Santos vai afectar o MPLA - analista
A desavença pública entre o presidente João Lourenço e o seu predecessor Eduardo dos Santos vai afectar o funcionamento “saudável” do MPLA e é uma “desonra” do estado, consideraram dois analistas angolanos.
A cisão entre o presidente de angola João Lourenço e o seu predecessor José Eduardo dos Santos veio ontem subitamente a público devido a diferendos sobre a deslocação de Eduardo dos Santos a Espanha onde regularmente recebe cuidados médicos.
Segundo uma nota da presidência dos Santos recusou-se a voar numa aeronave compatível com o seu estatuto e mesmo num avião da companhia estatal TAAG preferindo partir num avião comercial das linhas áreas portuguesas TAP.
O presidente João Lourenço deslocou se ele mesmo a casa de Eduardo dos Santos para o tentar dissuadir da sua posição mas sem sucesso.
Walter Ferreira, consultor jurídico e coordenador da Plataforma para a Cidadania, disse que “esta situação cria muitas dificuldades para os militantes e dirigentes do MPLA para uma relação partidária saudável”.
Ferreira considerou que Eduardo dos Santos “goza de muita simpatia por parte de muitos militantes e dirigentes que algumas vezes parece estarem a condicionar as políticas do actual presidente”.
“Isto só dificulta aquilo que é a imagem do partido”, acrescentou.
O analista Rui Kandove disse existir um “mau clima” entre os dois. Kanodve recordou a prisão do filho do ex presidente e ainda o facto da sua filha não regressar a Angola por receio de ser presa, acrescentando que por isso “ Eduardo dos Santos tem todas as razões em não se sentir confortável com a situação”.
No que diz respeito ao incidente sobre a sua deslocação a Espanha, o analista disse ser sua opinião que “ o presidente Eduardo dos Santo desonrou as estruturas do estado”.
“João Lourenço também não honrou muito o estado tendo feito um papel de relações públicas”, acrescentou.
“Não se entende porque é que ele foi atrás de Eduardo dos Santos”, disse em referencia á visita que o presidente efectuou á residência de Eduardo dos Santos para o convencer a não viajar num avião de carreira comercial.
Para Kaondove esse papel de relações púbicas “não teve sucesso porque não o conseguiu convencer”.
Até ao momento desco ehcese as razões que Eduardo dos Santos terá apresentado para se recuar a voar numa “aeronave compatível com o seu estatuto” ou mesmo a viajar na TAAG. VOA