Jonas Savimbi foi morto no dia 22 de fevereiro de 2002 nas matas do Luvo, região de Lukusse, província do Moxico. A ofensiva que envolveu corpos de elite do exército angolano estava a ser preparada há vários dias. Naquela sexta-feira, a coluna liderada por Savimbi foi atacada e o líder abatido com mais de uma dúzia de tiros.
A morte já tinha sido anunciada dezenas de vezes e, por isso, a União Nacional Para a Independência Total de Angola desmentiu a notícia mas, pouco depois, as imagens do corpo do antigo guerrilheiro eram mostradas na televisão nacional para que não restassem quaisquer dúvidas.
Savimbi tinha 67 anos quando morreu. O corpo foi enterrado numa campa no cemitério de Luena mas ele tinha manifestado o desejo de ficar em Lopitanga, onde estão sepultados os pais.
Até ao abandono do poder, José Eduardo dos Santos sempre recusou os pedidos da UNITA e da família para que lhes fosse permitido realizar um funeral digno.
O ano passado, já com João Lourenço na presidência angolana, o governo anunciou a exumação do corpo do fundador da UNITA. Foram realizados testes de ADN para confirmar a identidade das ossadas e o funeral foi marcado para este sábado.
Recentemente, dois dos trinta filhos do fundador da UNITA fizeram questão de agradecer a João Lourenço por poderem honrar a memória do pai. Aleluiah Savimbi confessou, no entanto, que ainda espera pela reabilitação da imagem do pai porque ele também lutou pela independência do país. Os dois filhos contaram que nunca puderam fazer o luto e, por isto, o funeral de hoje é necessário para fecharem algumas feridas que ainda se mantêm abertas.
A UNITA e a família querem que a cerimónia publica seja um momento importante de unidade nacional.
Angola tornou-se num palco da Guerra Fria após a independência em 1975, desde que o Movimento Popular para a Libertação de Angola assumiu o controlo do país. Os Estados Unidos e a África do Sul apoiaram as tropas de Savimbi enquanto a União Soviética e Cuba estiveram ao lado do MPLA.
O conflito durou mais de um quarto de século e causou a morte a cerca de meio milhão de pessoas.
A guerra civil prolongou-se até à década de 1990, quando Savimbi e José Eduardo dos Santos assinaram em Bicesse, nos arredores de Lisboa, o acordo que previa um cessar-fogo, a constituição de um exército unificado e a realização de eleições.
Os angolanos foram chamados a votar em 1992 para legislativas e presidenciais, mas a UNITA contestou os resultados que deram a vitória ao MPLA e a José Eduardo dos Santos. O país entrou de novo em guerra.
Dois anos mais tarde, o Ministro das Relações Exteriores, Venâncio de Moura e o então Secretério-Geral da UNITA, Eugénio Ngolo Manuvakola, assinaram na Zâmbia o Protocolo de Lusaca, que previa mais um cessar-fogo, a constituição de um Governo de unidade nacional e a desmobilização das tropas do MPLA e da UNITA. A recusa de Savimbi em aceitar a vice-presidência do país conduziu, cinco anos depois, ao reinicio das hostilidades.
A morte do antigo líder abriu as portas ao fim do conflito. Cerca de dois meses depois da sua morte, o governo angolano e a liderança político-militar da UNITA assinaram em Luena, também na província do Moxico, o chamado Memorando de Entendimento Anexo ao Protocolo de Lusaca.
Este anexo previa a desmilitarização da UNITA e a sua reestruturação num partido político legítimo, uma amnistia geral para que fosse possível promover a reconciliação nacional, a reposição da administração do Estado em todo o território, a aprovação de uma nova Constituição e a elaboração de um registo de eleitores antes da realização de novas eleições. A guerra civil chegava finalmente ao fim.
Foram precisos, no entanto, 17 anos para que os restos mortais de Savimbi fossem entregues à família e à UNITA. Isso aconteceu na sexta-feira em Andulo.
Agora, são esperadas centenas de pessoas na pequena aldeia de Lopitanga para prestarem uma última homenagem a um homem que para uns representa a luta pela libertação e para outros é o responsável por um conflito que durou 27 anos. TSF