Marcelo Rebelo de Sousa chegou ao início da manhã a Luanda onde, na terça-feira, assiste à investidura de João Lourenço como novo Presidente angolano, tendo sido recebido durante a tarde, no palácio presidencial, por José Eduardo dos Santos, que se despede das mesmas funções.
"Foi um encontro de uma amizade, que é a amizade do povo português pelo povo angolano e do povo angolano pelo povo português, e em que não podemos esquecer o facto de que todos os presidentes eleitos democraticamente em Portugal conviveram com o Presidente José Eduardo dos Santos", sublinhou Marcelo Rebelo de Sousa.
O Presidente português falava na Escola Portuguesa de Luanda - que visitou logo após ter sido recebido por José Eduardo dos Santos -, numa receção apoteótica e que o levou a tirar dezenas de fotografias e 'selfies' com eufóricos estudantes angolanos e portugueses, terminando com uma improvisada partida de basquetebol e com Marcelo Rebelo de Sousa a alinhar numa das equipas da escola.
Sobre as relações entre os dois países, tema abordado pelos jornalistas a cada paragem, num momento em que decorrem na justiça portuguesa vários processos contra dirigentes angolanos, Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que, ao longo dos últimos anos, Angola e Portugal construíram "um conhecimento recíproco", com a "preocupação fundamental" de "levar mais longe a fraternidade entre os dois povos".
"E isso é o que conta, para além dos episódios do momento, é essa a linha fundamental", enfatizou.
Recordando os vários presidentes portugueses que se relacionaram, em funções, com José Eduardo dos Santos, Marcelo Rabelo de Sousa afirma que ouviu "testemunhos" em que "é possível encontrar vários momentos da história comum passos de convergência e de aproximação que no essencial respeitaram esta ideia: Dois povos que são irmãos".
"Depois, como acontece em todas as famílias, há momentos em que há, digamos assim, pontos que não são tão importantes, de divergência, de dissonância. Mas isso acontece nas famílias e no entanto as famílias não deixam de ser famílias no essencial", acrescentou.
Depois de um mergulho no Atlântico, junto à ilha de Luanda, pela manhã, cujas fotografias têm sido comentadas e partilhadas nas redes sociais pelos angolanos, o chefe de Estado português fecha o dia com uma aula na Universidade Agostinho Neto, onde foi professor.
Relações políticas entre Portugal e Angola "normais e bem consolidadas" - Ministro dos Negócios Estrangeiros português
O ministro dos Negócios Estrangeiros português reiterou hoje que as relações políticas entre Lisboa e Luanda são "normais e bem consolidadas", acrescentando que o primeiro-ministro português visitará Angola numa "data conveniente" para os dois países.
"Temos relações políticas normais, bem consolidadas, com Angola. O relacionamento económico é estreito e tem-se aprofundado desde o ano passado, em que, devido às dificuldades vividas em Angola e pelos efeitos ainda das dificuldades passadas da economia portuguesa, baixou, ao nível do investimento e exportações e importações", declarou à Lusa Augusto Santos Silva.
No primeiro semestre deste ano, essa realidade inverteu-se, com um "novo crescimento das relações económicas entre os dois países".
"O relacionamento histórico e cultural é tão estreito que é verdadeiramente nele que devemos atentar e construir a relação entre as nossas sociedades e os nossos Estados", considerou.
Augusto Santos Silva falava à Lusa por telefone a partir de Luanda, onde está a acompanhar o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, por ocasião da cerimónia de posse, esta terça-feira, do novo chefe de Estado angolano, João Lourenço (MPLA, partido no poder).
Questionado sobre críticas do vice-presidente da UNITA (maior partido da oposição em Angola), Raúl Danda, de que Portugal "verga sempre" perante exigências de Luanda, o ministro disse que o Governo português "não tem de responder a partidos políticos estrangeiros".
"Quer em Portugal quer em Angola, há quem entenda que há demasiada distância entre os dois países, há quem entenda que há demasiada cumplicidade, há quem entenda que há demasiada indiferença e há quem entenda que há demasiado relacionamento. Isso caracteriza mais as pessoas que emitem essas opiniões do que o estado das relações bilaterais e o comportamento dos dois Estados e dos dois Governos", sustentou.
Questionado sobre uma futura visita de António Costa a Angola -- que já esteve prevista para a primavera passada -, Santos Silva disse que Lisboa e Luanda "consideram que é muito importante uma visita do primeiro-ministro português a Angola, e também que são muito importantes visitas das mais altas entidades angolanas a Portugal".
"Neste momento é a questão de encontrar a data que seja mais conveniente para Portugal e para Angola. O que temos dito é que para nós, todas as datas são convenientes", afirmou.
Instado a comentar se essa deslocação pode ocorrer ainda este ano, Santos Silva não se comprometeu: "Amanhã [terça-feira] toma posse o novo Presidente, depois formar-se-á o Governo. Retomaremos o trabalho diplomático e quando for a melhor altura para as duas partes, assim se fará a visita".
Santos Silva disse ainda que Marcelo Rebelo de Sousa iria ser recebido ao início da tarde de hoje pelo Presidente angolano cessante, José Eduardo dos Santos, e esta terça-feira, participará no almoço oferecido pelo novo chefe de Estado, João Lourenço, após a posse.
Santos Silva revelou que também já teve "oportunidade de cumprimentar" o seu homólogo angolano, Georges Chikoti.
As relações entre Portugal e Angola esfriaram, depois de Luanda ter condenado notícias da imprensa portuguesa sobre a constituição como arguido do então vice-presidente angolano, Manuel Vicente, por corrupção ativa.
Numa reação sobre o assunto, em fevereiro, o Governo angolano considerou "inamistosa e despropositada" a forma como as autoridades portuguesas divulgaram a acusação, alertando que essa acusação ameaça as relações bilaterais.
No mês seguinte, o então ministro da Defesa angolano e candidato do MPLA às eleições de agosto -- em que foi eleito Presidente -, João Lourenço, exigiu "respeito" das autoridades portuguesas às "principais entidades do Estado angolano", admitindo que as relações bilaterais estavam "frias".
Na sequência deste facto, ficou adiada "sine die", a pedido de Angola, a visita da ministra da Justiça portuguesa, Francisca Van-Dúnem, a Angola, prevista para fevereiro e anunciada dias antes pelo chefe da diplomacia portuguesa, numa visita àquele país africano.