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Quem tem filha como Isabel não precisa de inimigos!

Post by: 31 Outubro, 2017

Paradoxalmente JES teve na sua própria primogénita a “crítica”mais activa ao desprestigiado sistema de ensino que implantou em Angola

Embora publicamente finja admirar o seu pai, a quem considera “grande estadista”, mesmo tendo colocado Angola na cauda de rankings como a mortalidade infantil e o acesso à água potável, Isabel dos Santos, a primogénita de José Eduardo dos Santos, é uma das figuras da sociedade angolana que mais deplora a danosa gestão do ancião que teve o “mérito” de partilhar o título de “presidente mais antigo do Mundo” com o ditador Teodoro Obiang Nguema, que subiu ao poder apenas 43 dias antes, após perpetrar um golpe de estado contra o próprio tio, Macías Nguema. Se por um lado, como escreveu na sua conta do Instagram a 12 de Março de 2016, considera o pai um “homem excepcional”, retratando-o mesmo como “uma verdadeira fonte de inspiração” em quem só se encontra “dignidade e inteligência” em “toda a sua acção”, por outro tem “dito” que o seu progenitor foi uma nulidade em determinados capítulos da sua administração enquanto chefe de Estado.

Como a esmagadora maioria dos angolanos, Isabel dos Santos não tem poupado críticas ao consulado do seu próprio progenitor. Mas ao contrário de muita gente que gasta saliva e perde tempo a fazê-lo em programas de rádio, a “filhinha querida do papai” fá-lo com actos, demonstrando inigualável coragem, exibindo uma valentia que poucos homens conseguem, enfim expressando a sua indignação pela miserável governação do pai que, por exemplo, deixou sem água potável cidades como o Sumbe e Menongue, atravessadas por rios, além de muitas mais, mesmo tendo Angola a segunda maior rede hidrográfica de África, depois da República Democrática do Congo. Este mesmo cujo PIB, apesar da sua conturbada situação interna, superou a de Angola no ano passado.

Com a existência em Angola de salas de aulas como a da foto, Isabel dos Santos tem razões para não acreditar no sistema de educação do país e contratar lá fora os seus principais colaboradores. foto: "Paul Jeffrey"

Em boa verdade, a “princesa dos ovos de ouro” tem sido em toda a linha inclemente e até certo ponto ingrata ou mesmo desrespeitosa para com o pai a quem deve tudo, inclusive o estatuto de “mulher mais rica de África”, que faz questão de esfregar na cara dos angolanos mais pobres, quando se permite ao luxo de comprar caríssimos (mesmo assim não ao preço justo) diamantes, enquanto 220 em cada mil crianças em Angola morrem antes de completarem cinco anos de vida. Ou seja, ela atinge e “reprova”o seu progenitor com coisas práticas e não a tagarelar, como muitos fazem.

As “críticas” mais ásperas de Isabel dos Santos ao pai têm a ver com o sistema de educação. A primogénita de José Eduardo dos Santos acha-o inábil, onde as pessoas frequentam a escola mas quase nada aprendem. E o desencanto da filha com o pai é tão grande nesse sentido que decidiu trazer estrangeiros, portanto, gente de fora, preferencialmente de Portugal, como fez no seu “brinquedo” de eleição, a Sonangol. Mesmo no caso de quadros angolanos, prefere os formados em Portugal, uma prática, aliás, transversal às suas empresas, muitas das quais sedeadas em Portugal, onde provavelmente terá tantos investimentos quanto em Angola, o que deixa lobrigar um certo complexo de inferioridade em relação à antiga “Metrópole”.

Mais do que apenas “criticar” com esses gestos o sistema de ensino montado pelo pai, aqui também há uma “afronta” da “mimada menina” ao pai. É que Portugal é o país que o pai passou a vida a apontar o dedo e a ameaçar cortes de relações, além de ter “perdido” muito do seu precioso tempo de juventude para expulsar os portugueses de Angola, durante as acções prosaicamente apodadas de “luta de libertação nacional”. Isabel podia até optar pela Espanha ou Brasil, mas preferiu Portugal, país que a corte de bajuladores do seu pai, na qual se sobrelevam nomes como os de Luvualu de Carvalho e Norberto Garcia, destratou de todos os modos e feitios.

Não acreditamos que ao desacreditar o sistema de ensino montado pelo próprio pai, Isabel dos Santos o faça de forma inadvertida. De modo algum. Afinal, o seu extremoso esposo, o zairense Sindika Dokolo, fez questão de dizer para quem quis ouvir que a ex-quitandeira de ovos é a angolana mais inteligente. Logo, ela sabe e tem consciência que ao importar “carradas” de portugueses para dirigirem a Sonangol e as suas empresas – estas dificilmente recrutam quadros em mercados que não o lusitano – fá-lo porque o ensino em Angola é uma fraude promovida pelo próprio pai. Tivesse o “paizinho querido” montado em quase quatro décadas de “reinado” um sistema de ensino competente e ela obviamente recrutaria a maior parte dos seus colaboradores de topo em Angola.

No fundo, Isabel dos Santos não deixa de ter alguma razão. Afinal, sabendo que pouco ou nada havia feito pelo sistema de Educação do país, o próprio pai não arriscou colocar os seus filhos do casamento com Ana Paula dos Santos em nenhuma escola angolana, fosse privada, que já as havia quando começaram a nascer os “Danilos”, ou pública. Matriculou-os na Escola Francesa, onde seguramente não estudaram a gesta heróica de Jinga a Mbande, Ngola Kiluanji, Ekwikwi, Mandume e outros – para quê estudar História de Angola, uma “utilidade” só para desafortunados?

Mais: não permitiu que os seus filhos mais crescidos frequentassem a Universidade Agostinho Neto e muito menos o ensino médio no país. Todos estudaram no estrangeiro porque o pai não acreditava no seu próprio trabalho. E mesmo assim há ainda quem ache que José Eduardo dos Santos fez “milagres” por Angola!

Para se ter uma noção, mínima que seja, do descaso e desprezo com que José Eduardo dos Santos tratou a Educação e o Ensino do país que ele governou quase 40 anos, convém recorrer a um episódio sucedido nos EUA. Quando em 1993 Bill Clinton foi eleito Presidente dos Estados Unidos da América atrasou-se ligeiramente a arrumar as“imbambas”e, à chegada à “Casa Branca”, ido do Arkansas, estado onde vivia e foi governador por dois mandatos, já as matrículas nas escolas públicas haviam encerrado. Em consequência, não pôde matricular a filha, Chelsea, numa escola pública de Washington, fazendo-o numa escola particular americana. Mesmo tendo recorrido a uma escola americana, o 42.º presidente dos EUA não se livrou de fortes críticas, vindas não só dos seus opositores mas principalmente da mídia local. Então, o “homem mais poderoso do Mundo” fora acusado de desrespeitar o sistema educativo do país. O facto ficou assinalado como grave mácula no currículo do homem que governou os Estados Unidos da América de 1993 a 2001. Agora imaginem se tivesse posto a filha numa escola francesa como fez o nosso “iluminado”! Cairiam certamente o Carmo e a Trindade.

Diante de tantas “afrontas” e “críticas com acções” da filha, é caso para, como fazem muitos pais, na hora do desespero, José Eduardo dos Santos perguntar: “onde é que eu errei na educação desta menina?” De resto, do modo como a “filhinha” vem afundando o progenitor com “acções concretas”, descredibilizando todo o sistema de educação por ele desenhado, o “quase emérito” sequer precisa de inimigos. Basta-lhe a filha que não se cansa de “dizer”, com a importação às carradas de quadros portugueses, que na Educação e Ensino “papai fez m... esses anos todos”. CA

Last modified on Terça, 31 Outubro 2017 13:16
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