Falando no programa “Angola Fala Só” o conhecido deputado afirmou que o início do mandato do novo presidente foi “muito muito bom, mesmo excelente” que “quase despertou a vontade de todo o angolano viver em Angola”.
“Foi um início que deu ao angolano o orgulho de ser angolano e mesmo de chamar a João Lourenço o meu presidente, o nosso presidente,” disse o deputado para quem Lourenço é “um homem humilde, simples e com uma linguagem clara."
Contudo o deputado da CASA-CE manifestou-se inquietado com as nomeações feitas por João Lourenço para substituir as pessoas por ele exoneradas, afirmando que as nomeações feitas até agora “não mudam nada."
“Os que estão a ser nomeados por João Lourenço não prometem já que muitos deles são acusados de serem gatunos do erário público e de serem corruptos,” afirmou acrescentando que isso está a “afrouxar” a popularidade do presidente..
O deputado da CASA-CE manifestou-se também decepcionado pelo facto de João Lourenço ter afirmado não querer nomear membros da oposição para o governo.
“Despartidarizar o Estado não é nomear dirigentes da oposição para o cargo de vice-presidente,” disse afirmando que é preciso acabar com a dualidade de cargos entre administradores que são também dirigentes locais do MPLA.
“O cartão do MPLA vale mais que o Bilhete de Identidade e é isso que não queremos,” disse acrescentando que face a essa resposta há que concluir que João Lourenço “não é presidente de todos os angolanos. É presidente dos membros do MPLA."
Makuta Nkondo disse no entanto que na sua opinião João Lourenço está “a procurar salvar-se” equilibrando os interesses do MPLA com aqueles da presidência.
O deputado abordou o isolamento a que estão submetidas populações do interior e, face às enormes dificuldades em todo o país, ridicularizou o slogan eleitoral “melhorar o que está bem e corrigir o que está mal."
“Eu pergunto: o que é que está bem? Eu não vejo”, disse.
Contudo Nkondo disse que se o presidente “continuar no melhor sentido não vejo nenhum líder da oposição política, da sociedade civil, que fará melhor que João Lourenço."
“Ninguém sabia que havia esta pessoa com este nível, com esta capacidade no seio do MPLA,” afirmou.
“Na oposição não vejo ninguém e conheço quase todo mundo,” acrescentou sublinhando no entanto que Lourenço faz face à entraves dentro do MPLA “sobretudo devido à bicefalia” de poderes em que muitos consideram que é o MPLA quem manda no presidente, considerando João Lourenço como “subalterno de José Eduardo dos Santos”.
Interrogado mais adiante no programa sobre se não havia uma contradição entre dizer que João Lourenço é um líder sem par em Angola e a sua desilusão, Makuta Nkondo disse que o presidente tem a oposição de José Eduardo dos Santos que “está a fracturar o MPLA."
“Este problema pode provocar um dia conflictos e eu temo pela vida de João Lourenço”, disse acrescentando que o presidente “está a agir com a sua cabeça e isso pode-lhe custar caro” recordando depois contudo que como Presidente da República “João Lourenço tem o poder de dissolver tudo."
Durante o programa Makuta Nkonda disse que em Angola “os autóctones, os indígenas são os mais discriminados."
“O indígena, o autóctone não tem poder, pois é o mais pobre, o mais rejeitado, o mais marginalizado”, disse o deputado que se insurgiu também contra a entrega de veículos de luxo e “outras mordomias” a deputados.
Nkonda revelou que a sua posição tinha causado controvérsia dentro da própria CASA-CE com uma reunião de emergência e muitos membros do partido a afirmarem que a posição de Mkuta Nkonda não tinha sido aprovada pelos dirigentes da CASA-CE.
“Eu perguntei se era censura ou não, porque Makuta Nkondo não se censura”, disse afirmando que recebeu o seu Lexus e que está em casa.
“Eu ando com a minha carrinha de onde o pneu de socorro foi roubado”, afirmou.
No final do programa um ouvinte quis saber a opinião do deputado sobre reparações às vítimas da guerra civil em Angola.
No seu estilo directo habitual Makuta Nkondo descreveu a questão como "muito sensível" e disse ter havido vítimas em todos os lados do conflicto e vítimas dentro dos próprios partidos que lutaram pela independência do país e depois entre si.
Nkondo falou das vítimas das lutas dentro do MPLA no 27 de Maio, e no leste do país, mas frisou ter havido vítimas dentro da UNITA e da FNLA.
“Todos os primeiros líderes dos três movimentos mataram,” disse.
“Holden (Roberto) exterminou quase todos os companheiros, Neto exterminou todos os companheiros, a UNITA fez o mesmo”, disse.
“Não conheciam outra sentença senão a morte”, afirmou, e disse ter notado que a UNITA tinha pedido a entrega do corpo de Jonas Savimbi.
“E onde estão os corpos de Tito Chinguji, de (Jorge) Sangumba, de Wilson Santos?” interrogou.
“Do lado do MPLA onde estão os corpos de Nito Alves, Bakalof, Zé van Dunem? E do lado da FNLA onde estão os corpos de uma série de comandantes que foram mortos?” perguntou. Voanews